Paixão de uma vida: de aluno, a professor e a fundador da UALG

Beatriz Sequeira

Ludgero Sequeira foi professor da Universidade do Algarve (UAlg) durante 30 anos. Quando era jovem nunca se preocupou muito com os estudos, gostava mais do futebol, até ser confrontado por um momento de independência, quando se mudou para Lisboa, em 1969. Nesse ano, entrou para o Instituto Comercial no Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa (ISCAL), onde se formou em contabilidade que, na altura, se designava por Ensino Médio, o referente ao Ensino Secundário nos dias de hoje. 

A vida deu a sua primeira volta quando teve de integrar o serviço militar em 1971 e ir para a Guiné combater na Guerra Colonial. Para sua infelicidade, foi ferido e teve de regressar de imediato a Portugal para obter cuidados médicos. Após o 25 de Abril, que viu acontecer do quarto do hospital, conseguiu ganhar forças para concluir o curso de contabilista. Iniciou a sua carreira como técnico verificador no Ministério das Finanças e trabalhou dois anos e meio como funcionário da Caixa Geral de Depósitos. Ao mesmo tempo, frequentava, no ISCTE, a licenciatura em Gestão de Empresas, entre 1977 e 1982. 

A 20 de outubro de 1986 tornou-se o primeiro professor a dar aulas no curso de Gestão do Instituto Superior de Tecnologias e Gestão, que agora conhecemos como Instituto Superior de Engenharia. 

Atualmente, a UAlg conta com cerca de 1100 funcionários e Ludgero Sequeira foi o 33.º. Tornou-se um homem muito ambicioso e ciente das voltas que a sua vida deu ao longo dos anos. Substituiu o seu amor pelo futebol pelo amor pelo ensino e pela vida académica. 
 
Olhares Académicos (OA): Porque é que quis ser professor? 
Ludgero Sequeira (LS): Eu quis ser professor porque sempre gostei das aulas, nunca falhava nenhuma, gostava muito do ambiente académico e foi talvez isso que me levou a pensar que poderia ter uma carreira no ensino. Além disso, sentia que tinha mais apetência para transmitir os conhecimentos do que para executá-los. O aspecto conceptual de ensinar a contabilidade satisfaz-me mais do que a técnica. 

OA: O que fez para chegar à UAlg? 
LS: Como eu tinha trabalhado como técnico verificador no Ministério das Finanças em Lisboa e, a seguir, estive dois anos e meio como funcionário da Caixa Geral de Depósitos, ingressei na Universidade do Algarve em 1984. Candidatei-me para o Instituto Politécnico, mas numa condição, tirar o mestrado, porque na altura era pedido. Fiz o mestrado e, paralelamente ao mestrado, fui preparando o curso juntamente com um colega. Era preciso fazer um plano de curso com o conjunto de disciplinas, era preciso fazer programas para as disciplinas, definir horários e decidir quantas pessoas são necessárias para assegurar as aulas ao nível dos vários anos. Fizemos isso desde 1984 a 1986. 

OA: Teve mais do que um cargo na UAlg? 
LS: Em 1987 fui diretor do curso superior de Gestão e desempenhei o cargo de diretor até 1992. Antes de 1992, o reitor Carlos Alberto Lloyd Braga, na altura, lançou um desafio a quatro ou cinco professores, não sei precisar, que já estavam a dar aulas nesse curso: criar uma escola nova. Uma escola nova que incluísse não só o curso de Gestão, mas também cursos orientados para a formação em turismo e em gestão hoteleira e foi aí que foi construído o edifício ao lado esquerdo inaugurado em 1991. Em novembro de 1992, decorreram as primeiras eleições para o conselho diretivo e fui eleito presidente. Fui presidente da escola de 1992 a 1998. Entretanto, abrimos duas extensões: em Portimão e em Vila Real de Santo António. Sendo que eu, para além de ser o presidente do conselho diretivo, fui nomeado também pró-reitor, de 1993 até 1998, para gerir as duas novas extensões. Além do mais, fui presidente do Senado em todos os anos que lá estive. Executados dois mandatos, deixei o cargo de presidente do conselho diretivo para fazer formação no sentido de obter o grau de doutoramento. Durante o período de formação para obtenção do grau de doutor, ou seja do ano de 1999 a 2001, fui presidente do conselho pedagógico. Mais tarde, ainda antes da conclusão do doutoramento, mais precisamente em 2001, fui eleito novamente presidente do conselho diretivo tendo executado dois mandatos, sendo o ultimo concluído no ano de 2008. Cumpridos estes dois últimos mandatos de presidente do conselho diretivo, fui presidente do conselho pedagógico de 2009 a 2012 e novamente diretor do curso superior de gestão de 2012 a 2014.

OA: Quando é que passou a ser professor universitário? 
LS: Antes de mais, nunca me pude considerar professor universitário, porque quando me candidatei, candidatei-me a professor do Instituto Politécnico. Por tanto, fui professor do subsistema politécnico. Só passei a poder ser considerado professor universitário, quando, no início dos anos 90, o Ensino Politécnico foi integrado na Universidade do Algarve, embora continuando a ser sempre docente do subsistema politécnico. 

OA: Que outros projetos desenvolveu ao longo dos seus 30 anos de ensino? 
LS: Executados dois mandatos, deixei o cargo de presidente do conselho diretivo para fazer formação no sentido de obter o grau de doutoramento, uma formação feita no âmbito do protocolo entre a Universidade do Algarve e a Universidade de Huelva, grau académico que concluí em 2003. Fui presidente da direção da Fundação para o Desenvolvimento da UAlg nos finais dos anos 90 até aos princípios dos anos 2000, cujos serviços funcionavam na designada casa do reitor e fui fundador e representante da Universidade do Algarve no CIBERCEM, no Círculo Ibérico de Economia Empresarial, criado entre universidades portuguesas e espanholas. No seguimento da reforma de Bolonha, já em 2005, fui membro do Conselho Geral da Universidade do Algarve até 2014. Desenvolvi projetos de trabalhos aplicados no âmbito das solicitação feitas por várias identidades externas na vertente contabilística/financeira, como por exemplo no projeto para transferência da exploração da água nos concelhos de Portimão, Lagoa e Monchique para empresas públicas ou privadas e na consultoria para a câmara municipal de faro sobre a gestão da empresa FAGAR. 

OA: Qual é a pior parte de ser professor universitário? 
LS: O que eu considero mais negativo foi o facto das alterações provocadas pela convenção de Bolonha terem obrigado a reduzir o número de estágios que os alunos realizavam durante o seu percurso académico. 

OA: Qual foi o melhor momento enquanto professor na UAlg? 
LS: Foram vários os bons momentos. Desde logo a fusão do Ensino Politécnico com o Ensino Universitário, mas também o crescimento da Escola Superior de Tecnologia e Gestão ao longo de vários anos, tendo chegado a contar com mais de 2000 alunos. Outro aspeto importante que é de sublinhar é o facto de a escola ESGHT ter conseguido alcançar plenamente os seus objetivos na formação de muitas pessoas que, caso a escola não existisse, dificilmente se conseguiriam realizar academicamente, refiro-me essencialmente à grande massa de alunos que nestes últimos 30/40 anos lograram obter o grau académico de bacharelo, de licenciados ou mesmo de mestres.

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