O que pensam os portugueses sobre os abusos sexuais na Igreja?

Natália Correia

Apesar das inúmeras denúncias de alegados abusos sexuais na Igreja Católica, a inatividade por parte da instituição e da justiça têm dado lugar à indignação de muitos portugueses perante a forma como se tem desenvolvido o tratamento da justiça aos padres acusados. 

Afinal o que está a ser feito relativamente aos depoimentos revelados e aos inquéritos abertos? Onde ficam as vítimas? Estas são algumas das dúvidas evocadas pelas pessoas a quem solicitámos opinião.

Para Tânia Saramago “o estado é laico” e “não temos de esperar que este se pronuncie, a justiça tem que decorrer como outro crime qualquer, independentemente de ser a Igreja”. Relativamente às declarações iniciais de Marcelo Rebelo de Sousa, Tânia Saramago afirma que: “não cabe ao Presidente da República dar uma opinião de como se devem desenrolar as investigações, ou como deve ser a atuação dos bispos em relação aos padres.”
 
Relativamente à posição oficial da Igreja, Pedrina Leal entende que “está a ser incompetente na forma como está a gerir esta questão, porque não quer ver, e admitir, que estes casos de abuso sexual existem dentro do meio e não quer que isso passe cá para fora". Pedrina Leal acha errado “a igreja não querer pagar as indemnizações às vítimas”. 

Ainda sobre o parecer da Igreja, Tiago Argel refere: "existe muita falta de transparência na forma como estas alegações estão a ser conduzidas, muito honestamente acho que a Igreja está a ser protegida pelo Governo e devia ser julgada de forma imparcial, independentemente de serem padres, bombeiros ou policias”. “Passe o tempo que passar os crimes não devem prescrever e as pessoas envolvidas tem de ser julgadas”, refere. Também na opinião de Diogo Lima, “ os padres deviam ser julgados como em outro crime qualquer e como qualquer cidadão".
Inatividade da Igreja Católica e da justiça portuguesa é motivo de indignação para alguns portugueses.
 Fonte da imagem: IOL CNN 

Quanto às declarações de membros do clero, Tânia Saramago considera-os vergonhosos: "ouvi no outro dia um padre a dizer numa entrevista que havia perdão na igreja e que dessa forma achava que esses padres que estão a ser julgados também mereciam perdão. Por mim tudo bem, a Igreja até pode perdoar, mas quando a jornalista lhe pergunta se achava que essas pessoas deviam ir à justiça ele respondeu - a minha resposta já foi dada - o que deu a entender que esses padres, sendo absolvidos na Igreja têm de ser absolvidos na sociedade civil e eles não tem de ser absolvidos tem de ser julgados como outra pessoa qualquer. Pois se a mim, para trabalhar com crianças é me solicitado o registo criminal para saberem se sou apta, esses senhores não podem continuar a exercer esse papel com cadastro sujo. Para além disso, fala-se da Igreja, dos padres, do governo, mas na realidade ainda não ouvimos falar daquelas que são realmente importantes, que são as vítimas as quais continuam a ser negligenciadas”.
lustração © Churchandstate.org

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