Maria Inês Serafim
Duarte Zemp tem 18 anos, nasceu no Porto e logo rumou até às colinas de Lisboa. Aos 12 anos, foi viver no Alentejo, em Serpa, onde reside até hoje com os pais, o irmão e os seus porcos, galinhas, patos, ovelhas e porquinhos da Índia. Após terminar o 12.º ano, na área de Humanidades, dedicou-se ao trabalho no campo e embalamento de produtos agrícolas. Atualmente está na América Latina numa viagem naturalista e ecológica que integra projetos de voluntariado na área da sustentabilidade.
“Alémundo” é o nome do projeto deste Darwin alentejano que tem um propósito simples: “voltar às origens”, contribuindo para a literacia ambiental dos jovens portugueses e, consequentemente, incitando-os à implementação de práticas sustentáveis. Vai fazer uma viagem “à alentejana” com tempo para “apreciar os «pueblos», «ciudades»” e a fauna e flora da América Latina. Escolheu o Peru, o Equador e a Costa Rica para integrar de forma voluntária projetos de conservação animal e agricultura e pecuária sustentáveis. Pretende partilhar com os que cá ficam os conhecimentos de permacultura, entre outras técnicas.
Como é que te informaste sobre o concurso do Gapyear?
A seleção dos países não surgiu de forma aleatória. Tentei ao máximo estudar todas as possibilidades sem descartar nenhuma à partida. Comecei por pensar naquilo que procurava com esta aventura. Eu tinha muita vontade de fazer voluntariado internacional e, se calhar, pelo que se vê nas redes sociais, pensei imediatamente em África. Após falar com algumas pessoas percebi que eventualmente seria bom, mas quiçá não como primeira experiência. O choque cultural poderia ser demasiado forte e, apesar de ser isso que no fundo procurava, também queria e quero disfrutar desta experiência, e que seja marcante pela positiva. Portanto o continente africano ficou excluído. De seguida, pensei na Europa, América do Norte e Austrália. Junto-os pois, ainda que muito distintos, têm também muitos pontos em comum e não sei se seria verdadeiramente útil em países tão desenvolvidos. Pensei que, mesmo experienciando uma cultura completamente diferente daquela a que estou habituado, não teria uma experiência tão enriquecedora e desafiante como a que poderia ter noutros lugares. Além disso, a questão financeira seria um problema, o que tornaria toda a viagem mais curta. Por fim, concluí que tinha dois finalistas. Seria entre a Ásia e a América Latina. Como a cultura latina sempre me chamou à atenção, mais que a asiática, acabou por ser uma escolha relativamente fácil. Os países em si foram selecionados consoante o meu interesse na cultura e nos lugares, a possibilidade de realizar as minhas paixões e interesses e a segurança que me podem oferecer. Os países que escolhi foram o Perú, o Equador e a Costa Rica. Entretanto, devido aos problemas políticos no Perú troquei-o pela Bolívia.
Qual foi a pior parte em viajar sozinho?
Eu optei por viajar sozinho porque, depois de algumas conversas e relatos, percebi que era a melhor maneira de conhecer uma cultura em simultâneo em que se conhece mais sobre nós mesmos. E é verdade!
Têm sido imensas as portas que se têm aberto ao longo desta experiência. Sentir a bondade das pessoas e fazer verdadeiros amigos nunca foi tão fácil. Mas, como tudo o que é bom, viajar sozinho também tem as suas desvantagens. De certo modo, sinto-me mais exposto e se, por um lado, pode ser muito bom, por outro acaba por me tornar mais vulnerável. Já houve situações onde me senti completamente sozinho, perdido e sem saber o que fazer. Felizmente este sentimento é passageiro e, pelo menos até agora, tudo tem acabado bem. Penso também que este desconforto é importante, não só porque é nele que posso "crescer", mas também, depois de passar por um mau momento tenho a certeza que aprecio muito mais todos os outros, que se calhar normalmente seriam banais
Qual foi o lugar que estavas mais entusiasmado para visitar?
O lugar que eu mais queria conhecer era o Perú, pois, como era o meu primeiro destino, foi aquele sobre o qual me informei mais. Tal como referi anteriormente, acabei por tomar a, para mim, difícil decisão de mudar para a Bolívia. Hoje em dia penso que foi o melhor que aconteceu. Tenho adorado conhecer este país maravilhoso com pessoas encantadoras. Talvez por não ser tão turístico como o Perú sente-se muito a genuinidade da cultura e a simpatia da população, sem intenção de lucrar com o turista, mas sim de recebê-lo e ajudá-lo.
Durante a tua viagem fizeste alguns trabalhos de restauros pelos sítios por que passaste, de qual dos trabalhos te sentes mais orgulhoso e porquê?
Em todos os projetos que integrei tentei ao máximo dar o melhor de mim e isso por vezes colocou-me em situações complicadas, ou nas quais não me sinto tão confortável a trabalhar. Desde canalização, eletricidade ou manutenção tenho experimentado um pouco de tudo e realizei também que, apesar de saber algumas coisas sobre temas diversos, ainda é possível aprender muito mais. No geral aprendi muito e por ter sido, até agora, pelo menos, o mais novo em todos os projetos, sinto uma empatia maior e há uma grande vontade de me ensinar algo quando não sei o que fazer.
Tem corrido tudo como esperavas?
Nada tem corrido como previsto. Ainda em Portugal tive de mudar todos os meus planos. Se calhar porque tudo acabou por se resolver bem, mas penso mesmo que foi ideal que tivesse acontecido. Atualmente não tenho planos concretos para os meus próximos meses e irei-me orientar por objetivos que quero fazer, como, por exemplo surfar. Como estão se constantemente a abrir portas novas penso que irei continuar a ir com a corrente e sinto me extremamente feliz com isso!
Se pudesses ter esta oportunidade novamente, aceitavas?
Sem dúvida! Tenho a certeza que, de alguma maneira, irei continuar a viajar! A partilha constante de experiências que tenho vivido fez-me despertar novos interesses que em Portugal nunca pensei ter.
Consegues resumir o teu percurso até agora?
Em suma, penso que está a ser algo enriquecedor, por vezes muito desafiante, e, sem dúvida, marcante, uma experiência que irei para sempre recordar. Estou entusiasmado para saber o que irá acontecer nos próximos meses!
“Alémundo” é o nome do projeto deste Darwin alentejano que tem um propósito simples: “voltar às origens”, contribuindo para a literacia ambiental dos jovens portugueses e, consequentemente, incitando-os à implementação de práticas sustentáveis. Vai fazer uma viagem “à alentejana” com tempo para “apreciar os «pueblos», «ciudades»” e a fauna e flora da América Latina. Escolheu o Peru, o Equador e a Costa Rica para integrar de forma voluntária projetos de conservação animal e agricultura e pecuária sustentáveis. Pretende partilhar com os que cá ficam os conhecimentos de permacultura, entre outras técnicas.
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No seu gap year, antes de entrar para a universidade, Duarte Zemp abraçou um projeto de literacia ambiental. |
Como é que te informaste sobre o concurso do Gapyear?
A ideia de Gap Year já estava presente, mesmo antes de saber da existência do concurso.
Não queria ir diretamente para a universidade porque sentia que não me conhecia verdadeiramente a mim próprio, nem tinha nenhum curso em mente e, acima de tudo, tinha e tenho uma enorme vontade de conhecer mais, não só lugares, mas também culturas, pessoas e formas de pensar diferentes. Quando fui à Futurália, a Associação Gap Year Portugal apresentou-me essa possibilidade e, sendo sincero, o que mais me impressionou nem foi o concurso, mas sim o facto de haver uma associação em Portugal que tivesse esta iniciativa de motivar jovens a fazer um ano sabático, um conceito que até então exclusiva dos países da Europa Central e do Norte. Ao ver da existência do concurso pensei que seria uma boa possibilidade de, de certo modo, organizar a minha viagem, pois teria de elaborar um projeto. A possibilidade de ganhar só me pareceu realista quando, já depois de ter passado uma primeira fase de seleção, apresentei o meu projeto em competição com outros nove projetos finalistas. Ganhar foi mesmo um choque para mim.
Porque decidiste ir para a América Latina?
Não queria ir diretamente para a universidade porque sentia que não me conhecia verdadeiramente a mim próprio, nem tinha nenhum curso em mente e, acima de tudo, tinha e tenho uma enorme vontade de conhecer mais, não só lugares, mas também culturas, pessoas e formas de pensar diferentes. Quando fui à Futurália, a Associação Gap Year Portugal apresentou-me essa possibilidade e, sendo sincero, o que mais me impressionou nem foi o concurso, mas sim o facto de haver uma associação em Portugal que tivesse esta iniciativa de motivar jovens a fazer um ano sabático, um conceito que até então exclusiva dos países da Europa Central e do Norte. Ao ver da existência do concurso pensei que seria uma boa possibilidade de, de certo modo, organizar a minha viagem, pois teria de elaborar um projeto. A possibilidade de ganhar só me pareceu realista quando, já depois de ter passado uma primeira fase de seleção, apresentei o meu projeto em competição com outros nove projetos finalistas. Ganhar foi mesmo um choque para mim.
Porque decidiste ir para a América Latina?
A seleção dos países não surgiu de forma aleatória. Tentei ao máximo estudar todas as possibilidades sem descartar nenhuma à partida. Comecei por pensar naquilo que procurava com esta aventura. Eu tinha muita vontade de fazer voluntariado internacional e, se calhar, pelo que se vê nas redes sociais, pensei imediatamente em África. Após falar com algumas pessoas percebi que eventualmente seria bom, mas quiçá não como primeira experiência. O choque cultural poderia ser demasiado forte e, apesar de ser isso que no fundo procurava, também queria e quero disfrutar desta experiência, e que seja marcante pela positiva. Portanto o continente africano ficou excluído. De seguida, pensei na Europa, América do Norte e Austrália. Junto-os pois, ainda que muito distintos, têm também muitos pontos em comum e não sei se seria verdadeiramente útil em países tão desenvolvidos. Pensei que, mesmo experienciando uma cultura completamente diferente daquela a que estou habituado, não teria uma experiência tão enriquecedora e desafiante como a que poderia ter noutros lugares. Além disso, a questão financeira seria um problema, o que tornaria toda a viagem mais curta. Por fim, concluí que tinha dois finalistas. Seria entre a Ásia e a América Latina. Como a cultura latina sempre me chamou à atenção, mais que a asiática, acabou por ser uma escolha relativamente fácil. Os países em si foram selecionados consoante o meu interesse na cultura e nos lugares, a possibilidade de realizar as minhas paixões e interesses e a segurança que me podem oferecer. Os países que escolhi foram o Perú, o Equador e a Costa Rica. Entretanto, devido aos problemas políticos no Perú troquei-o pela Bolívia.
Qual foi a pior parte em viajar sozinho?
Eu optei por viajar sozinho porque, depois de algumas conversas e relatos, percebi que era a melhor maneira de conhecer uma cultura em simultâneo em que se conhece mais sobre nós mesmos. E é verdade!
Têm sido imensas as portas que se têm aberto ao longo desta experiência. Sentir a bondade das pessoas e fazer verdadeiros amigos nunca foi tão fácil. Mas, como tudo o que é bom, viajar sozinho também tem as suas desvantagens. De certo modo, sinto-me mais exposto e se, por um lado, pode ser muito bom, por outro acaba por me tornar mais vulnerável. Já houve situações onde me senti completamente sozinho, perdido e sem saber o que fazer. Felizmente este sentimento é passageiro e, pelo menos até agora, tudo tem acabado bem. Penso também que este desconforto é importante, não só porque é nele que posso "crescer", mas também, depois de passar por um mau momento tenho a certeza que aprecio muito mais todos os outros, que se calhar normalmente seriam banais
Qual foi o lugar que estavas mais entusiasmado para visitar?
O lugar que eu mais queria conhecer era o Perú, pois, como era o meu primeiro destino, foi aquele sobre o qual me informei mais. Tal como referi anteriormente, acabei por tomar a, para mim, difícil decisão de mudar para a Bolívia. Hoje em dia penso que foi o melhor que aconteceu. Tenho adorado conhecer este país maravilhoso com pessoas encantadoras. Talvez por não ser tão turístico como o Perú sente-se muito a genuinidade da cultura e a simpatia da população, sem intenção de lucrar com o turista, mas sim de recebê-lo e ajudá-lo.
Durante a tua viagem fizeste alguns trabalhos de restauros pelos sítios por que passaste, de qual dos trabalhos te sentes mais orgulhoso e porquê?
Em todos os projetos que integrei tentei ao máximo dar o melhor de mim e isso por vezes colocou-me em situações complicadas, ou nas quais não me sinto tão confortável a trabalhar. Desde canalização, eletricidade ou manutenção tenho experimentado um pouco de tudo e realizei também que, apesar de saber algumas coisas sobre temas diversos, ainda é possível aprender muito mais. No geral aprendi muito e por ter sido, até agora, pelo menos, o mais novo em todos os projetos, sinto uma empatia maior e há uma grande vontade de me ensinar algo quando não sei o que fazer.
Tem corrido tudo como esperavas?
Nada tem corrido como previsto. Ainda em Portugal tive de mudar todos os meus planos. Se calhar porque tudo acabou por se resolver bem, mas penso mesmo que foi ideal que tivesse acontecido. Atualmente não tenho planos concretos para os meus próximos meses e irei-me orientar por objetivos que quero fazer, como, por exemplo surfar. Como estão se constantemente a abrir portas novas penso que irei continuar a ir com a corrente e sinto me extremamente feliz com isso!
Se pudesses ter esta oportunidade novamente, aceitavas?
Sem dúvida! Tenho a certeza que, de alguma maneira, irei continuar a viajar! A partilha constante de experiências que tenho vivido fez-me despertar novos interesses que em Portugal nunca pensei ter.
Consegues resumir o teu percurso até agora?
Em suma, penso que está a ser algo enriquecedor, por vezes muito desafiante, e, sem dúvida, marcante, uma experiência que irei para sempre recordar. Estou entusiasmado para saber o que irá acontecer nos próximos meses!
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