Alexandre Cebrian Valente: "Acho que o cinema português não está a ir no caminho certo e atrair prémios em festivais não afeta o público alvo"

 Mafalda Matias, Matilde Agostinho e Miguel Ribeiro


Alexandre Cebrian Valente é um produtor e realizador português, nascido em 1968. Foi diretor do projeto SIC Filmes, tendo feito parte de outros projetos tais como Contos de Natal e o Programa da Maria. Acredita que o que se faz em Portugal não sai "fora dos padrões ou da 'caixa'". O realizador revela-nos algumas das suas opiniões mais controversas em relação ao cinema português e partilha também um pouco da sua vida pessoal e profissional.

Alexandre Cebrian Valente, CEO Utopia Grupo


Há 30 anos, como se iniciava a carreira de realizador e produtor em Portugal?
Comecei em 1991 como chauffer, que é o 1.º grau no mundo do cinema. Depois passei para assistente de produção, mais tarde para services, onde o meu trabalho era contactar o pessoal. Em seguida passei a ser chefe de produção e, por fim, diretor de produção, que era o cargo máximo. O Manuel Oliveira foi o meu mentor e foi quem pegou em mim e me escolheu para ser o seu aprendiz.

Em relação ao suporte familiar, sempre se sentiu apoiado ao entrar neste meio?
Tinha acabado de sair da tropa e havia uma grande necessidade da emancipação masculina. O meu avô tinha um negócio de malhas, ou melhor, um "império das malhas” e quem seria o próximo a cuidar do negócio ia ser eu depois da reforma dele. Enquanto eu trabalhava, via filmagens e acompanhava o mundo. Passei por um divórcio que me custou. O meu avô tinha frequentado o colégio militar e, por isso, era uma pessoa que, de certa forma, era rija e "antiquada”. Lembro-me que ele ficou magoado quando eu saí do negócio de família das malhas para tentar perseguir o meu “sonho”, se assim o podemos chamar de tal.

Quais foram as diferenças que notou em relação ao trabalho cá e no estrangeiro?
Principalmente a grandeza, quando, por exemplo, olhava para uma folha de transportes na América e via que tinha 90 carrinhas de transporte, enquanto em Portugal isso seria “impensável”.
Abri uma produtora, a que dei o nome de Utopia Grupo. Felizmente posso dizer que se tornou um sucesso em termos nacionais e que cresceu rápido.

Gostaria de fazer um comentário em relação à cultura cinematográfica de Portugal?
Para existir cinema intelectual tem de existir cinema comercial e Portugal não investiu nos filmes certos. Portugal quis imitar a França e a Itália mas falhou redondamente, na minha opinião. Nunca dão espaço para que as pessoas se revelem, o sistema onde estamos é uma tirania. Portugal no estrangeiro é um tipo de cinema de festivais, mas não dá espectadores, então tudo o que se faz é imitar e não há um rasgo ou algo que seja diferente ou algo que saia fora dos padrões ou da “caixa”. É tudo igual, a mesma coisa, toda a gente fazia o mesmo tipo de coisas e não se arriscava por medo. Eu acho que se precisa de algo com espaço e identidade. Perdeu-se a verdade e a realidade a partir da desconexão da realidade do cinema verdadeiro, a partir dos telemóveis. Os nossos filmes são apenas conhecidos nos festivais e não ao redor do mundo. Eu acho que o cinema português não está a ir no caminho certo e atrair prémios em festivais não afeta o público alvo.

Em qual prefere trabalhar: televisão ou cinema?
Na minha opinião, trabalhar no cinema é de longe a área em que eu prefiro trabalhar.

Tem dois filhos, alguma vez os encorajou a seguir um caminho ligado à cultura?
Nunca os encorajei a tal nem nunca os influenciei para seguirem a minha profissão ou vocação. Para mim, os filhos são um empréstimo que a vida nos dá e, para aprenderem, eles têm de ser felizes quailquer que seja a vontade deles.




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