No ano em que Portugal comemora mais anos em democracia do que em ditadura, uma habitante de Sagres que presenciou a Revolução conta-nos como essa afetou a sua vida.
Entrevista | Joana Rosana
A Revolução que terminou com o período salazarista foi vivida e presenciada de muitas formas diferentes – entre aqueles que viviam em cidades grandes e os que viviam em vilas mais pequenas, por exemplo. Ondina Rosado, com 81 anos, conta-nos a forma como presenciou a Revolução numa vila pequena.
Olhares Académicos (OA): Quando e onde nasceu?
Ondina Rosado (OR): Nasci em 1941, aqui em Sagres na casa da minha mãe, que nessa altura não havia maternidades (risos).
OA: Como era o seu estilo de vida antes do 25 de Abril, vivia confortavelmente?
OR: Sim, pode-se dizer que sim, nunca tive grandes fortunas, mas também nunca passei fome ou dificuldades, tinha um estilo de vida normal para a época.
OA: Após o 25 de abril esse estilo de vida melhorou?
OR: Não, sinceramente não notei grandes diferenças. Quem vivia muito mal ou muito bem talvez tenha sido mais afetado, agora pessoas que como eu viviam dentro do que era considerado normal não notaram grande diferença.
OA: Como soube que estava a ocorrer uma revolução?
OR: Lembro-me perfeitamente desse dia, estava em casa despachar-me para ir trabalhar, tinha um mini-mercado na altura e ouvi pela rádio o que estava a acontecer.
OA: No que respeita às restrições, notou alguma diferença após esse dia?
OR: Não, as pessoas têm a impressão que tudo mudou de repente, mas isso não aconteceu. E aqui em Sagres, como era, e ainda é, uma vila muito pequena com poucos habitantes não sinto que vivêssemos tão restritamente como nas cidades. Não era muito controlada nem tinha de ter medo do que dizia ou fazia.
Não houve aqui nenhuma mudança que tenha achado mesmo significativa, já vivíamos de forma livre, dentro dos possíveis, claro, nada comparado com o que se vê hoje, mas não éramos “prisioneiros”.
OA: Ainda assim concorda com esta revolução e acha que foi necessária?
OR: Sim, claro que sim, e embora não tenhamos notado mudanças imediatas foi o primeiro passo para o mundo em que vivemos hoje, simplesmente não tive a grande mudança que hoje em dia se acha que todas as pessoas viram nas suas vidas, mas acredito que muitas outras pessoas a tenham sentido, eu é que tinha a sorte de viver aqui neste cantinho e de já ter bastante liberdade relativamente a outras zonas do país.
OA: Considera que se dá o devido valor ao 25 de abril? Acha que as gerações mais novas reconhecem a importância desse dia?
OR: Acho que felizmente é um dia do, qual se fala muito ainda, nas escolas principalmente, e que a juventude mais escolarizada sabe a importância que este dia teve e tem. Porém, acomodam-se um bocadinho, como vemos nas eleições. Os jovens sabem que este foi um dia muito importante para a democracia do país porém acomodam-se e não vão votar, mas depois fazem publicidade, vídeos e trabalhos sobre este dia, quando o ato mais simples de o honrar seria fazer aquilo pela qual lutámos.
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A Revolução dos Cravos trouxe a Portugal a democracia que tantos ansiavam. Fotografia: Eduardo Gageiro |
Entrevista | Rosana Rosado
Ondina Rosado (OR): Nasci em 1941, aqui em Sagres na casa da minha mãe, que nessa altura não havia maternidades (risos).
OA: Como era o seu estilo de vida antes do 25 de Abril, vivia confortavelmente?
OR: Sim, pode-se dizer que sim, nunca tive grandes fortunas, mas também nunca passei fome ou dificuldades, tinha um estilo de vida normal para a época.
OA: Após o 25 de abril esse estilo de vida melhorou?
OR: Não, sinceramente não notei grandes diferenças. Quem vivia muito mal ou muito bem talvez tenha sido mais afetado, agora pessoas que como eu viviam dentro do que era considerado normal não notaram grande diferença.
OA: Como soube que estava a ocorrer uma revolução?
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Às 22h55 do dia 24 de abril de 1974 ouvia-se na rádio a primeira senha ao início da Revolução, que fez com que Marcello Caetano, sucessor de Salazar, se rendesse. Fotografia: Eduardo Gageiro |
OR: Lembro-me perfeitamente desse dia, estava em casa despachar-me para ir trabalhar, tinha um mini-mercado na altura e ouvi pela rádio o que estava a acontecer.
OA: No que respeita às restrições, notou alguma diferença após esse dia?
OR: Não, as pessoas têm a impressão que tudo mudou de repente, mas isso não aconteceu. E aqui em Sagres, como era, e ainda é, uma vila muito pequena com poucos habitantes não sinto que vivêssemos tão restritamente como nas cidades. Não era muito controlada nem tinha de ter medo do que dizia ou fazia.
Não houve aqui nenhuma mudança que tenha achado mesmo significativa, já vivíamos de forma livre, dentro dos possíveis, claro, nada comparado com o que se vê hoje, mas não éramos “prisioneiros”.
OA: Ainda assim concorda com esta revolução e acha que foi necessária?
OR: Sim, claro que sim, e embora não tenhamos notado mudanças imediatas foi o primeiro passo para o mundo em que vivemos hoje, simplesmente não tive a grande mudança que hoje em dia se acha que todas as pessoas viram nas suas vidas, mas acredito que muitas outras pessoas a tenham sentido, eu é que tinha a sorte de viver aqui neste cantinho e de já ter bastante liberdade relativamente a outras zonas do país.
OA: Considera que se dá o devido valor ao 25 de abril? Acha que as gerações mais novas reconhecem a importância desse dia?
OR: Acho que felizmente é um dia do, qual se fala muito ainda, nas escolas principalmente, e que a juventude mais escolarizada sabe a importância que este dia teve e tem. Porém, acomodam-se um bocadinho, como vemos nas eleições. Os jovens sabem que este foi um dia muito importante para a democracia do país porém acomodam-se e não vão votar, mas depois fazem publicidade, vídeos e trabalhos sobre este dia, quando o ato mais simples de o honrar seria fazer aquilo pela qual lutámos.
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