A entrada na Única - Adega Cooperativa do Algarve, em Lagoa, faz-se através de um grande portão de metal. O espaço é de apreciável tamanho, circundado por paredes brancas que criam a divisão entre a estrada e o edifício, que também não desilude em termos de tamanho, fazendo-se crescer por entre curvas e contracurvas, com uma porta não centrada à sua esquerda.
Reportagem | Filipe Silva
O local está silencioso e na esplanada do seu lado direito as cadeiras estão vazias. A porta está semi-encostada e um papel onde se lê “Aberto” convida a entrar. Recebem-me duas senhoras numa receção espaçosa. Telma Nascimento, que se encontrava à frente de um monitor, apresenta-se como uma das administradoras da cooperativa. Trabalha na cooperativa há cerca de 36 anos. Inês Reis colabora como “assistente geral", trabalhando e ajudando em “tudo um pouco” há 3 anos.
A seu cargo têm, entre outras tarefas diárias, “a preparação para a abertura do estabelecimento” e, no caso mais específico de Telma, o trabalho informático. Em algumas ocasiões, acolhem visitas turísticas “especialmente para o museu” Lady in Red, contíguo à receção. Mas, no que compete à cooperativa em si, as encomendas são a sua principal atividade. “Jumbos, restaurantes, mercearias…” são alguns dos principais clientes. A “vindima”, em que cada sócio traz as próprias uvas para criar o vinho, é outra das atividades em que participam.
Sigo então ao encontro de João Marques, enólogo há 9 anos. No seu escritório, situado no segundo andar do edifício, revela-me que “as vendas caíram com a entrada da pandemia”. Na sua perspetiva, “o medo e a incerteza impede as pessoas de comprarem grandes quantidades de vinho”.
Para compensar, a cooperativa tem promovido alguns eventos, como os mais recentes de motociclismo e as visitas turísticas. Para além deles, o serviço de certificação dos vinhos, pelo qual a cooperativa é mais conhecida, sustenta minimamente o negócio e torna-o possível de existir.
A história do edifício que aloja a adega Única tem algumas atribulações. Tal como a maior parte dos negócios, começou pequeno e, ao ser vendido múltiplas vezes, terá crescido em tamanho. Há cerca de 13 anos juntou-se-lhe uma galeria de arte, que, embora não diretamente associada à atividade da cooperativa, partilha com ela o edifício, por conta da diversidade de sócios.
Trata-se de um laboratório, recheado de tubos de ensaios, papeis anotados e materiais de escrita, e à medida que vou observando com detalhe as suas características, João Marques vai narrando os seus significados e funções.
“Testes de acidez”, “testes da sulfurosa”, “certificação do vinho” são alguns dos termos técnicos com que me vai explicando processos, enquanto folheia papeis pousados em cima da bancada, apontamentos que dão conta do trabalho e precisão com que a análise vinícola é efetuada.
Ainda assim, e de acordo com as suas próprias palavras, o laboratório está “desatualizado” e longe até de seguir as normas legalmente propostas. “Mesas de madeira já não se usam”, assim como alguns dos dispositivos ali expostos. Não só o laboratório, na verdade, muitos são os locais ou não utilizados ou obsoletos que compõem as salas do edifício.
A galeria contém o trabalho de cerca de 30 a 40 artistas, de acordo com Daniela e Vasco, responsáveis pela sua manutenção. Uma grande parte está exposta em paredes visivelmente degradadas, sob um teto coberto por telhas com evidentes orifícios.
Tomando um elevador, somos transportados para a cave. Na sala de montagem de garrafas, um aparelho de rádio ecoa uma música tradicional portuguesa. É-me explicado o processo de montagem e de colocação da rolha numa garrafa de vinho. Dispostas muito próximas uma das outras, as máquinas trabalham automaticamente. Seguimos na direção de um arco de parede aberto. Neste espaço predomina um cheiro adocicado característico, ou não estivéssemos rodeados de barris, todos eles contendo substâncias de cariz alcoólico elevado, como a água ardente. A temperatura também é diferente, um pouco mais fria, cumprindo os requisitos de um armazém de conservação de bebidas espirituosas.
Subindo as escadas curtas e até ligeiramente pouco iluminadas, regresso à receção, ponto de partida desta minha visita à Única - Adega Cooperativa do Algarve, um lugar tão histórico e com tanto potencial.
Reportagem | Filipe Silva
O local está silencioso e na esplanada do seu lado direito as cadeiras estão vazias. A porta está semi-encostada e um papel onde se lê “Aberto” convida a entrar. Recebem-me duas senhoras numa receção espaçosa. Telma Nascimento, que se encontrava à frente de um monitor, apresenta-se como uma das administradoras da cooperativa. Trabalha na cooperativa há cerca de 36 anos. Inês Reis colabora como “assistente geral", trabalhando e ajudando em “tudo um pouco” há 3 anos.
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Telma Nascimento e Inês Reis acolhem os visitantes da Única, em Lagoa |
A seu cargo têm, entre outras tarefas diárias, “a preparação para a abertura do estabelecimento” e, no caso mais específico de Telma, o trabalho informático. Em algumas ocasiões, acolhem visitas turísticas “especialmente para o museu” Lady in Red, contíguo à receção. Mas, no que compete à cooperativa em si, as encomendas são a sua principal atividade. “Jumbos, restaurantes, mercearias…” são alguns dos principais clientes. A “vindima”, em que cada sócio traz as próprias uvas para criar o vinho, é outra das atividades em que participam.
Sigo então ao encontro de João Marques, enólogo há 9 anos. No seu escritório, situado no segundo andar do edifício, revela-me que “as vendas caíram com a entrada da pandemia”. Na sua perspetiva, “o medo e a incerteza impede as pessoas de comprarem grandes quantidades de vinho”.
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Imagem de João Marques |
Para compensar, a cooperativa tem promovido alguns eventos, como os mais recentes de motociclismo e as visitas turísticas. Para além deles, o serviço de certificação dos vinhos, pelo qual a cooperativa é mais conhecida, sustenta minimamente o negócio e torna-o possível de existir.
A história do edifício que aloja a adega Única tem algumas atribulações. Tal como a maior parte dos negócios, começou pequeno e, ao ser vendido múltiplas vezes, terá crescido em tamanho. Há cerca de 13 anos juntou-se-lhe uma galeria de arte, que, embora não diretamente associada à atividade da cooperativa, partilha com ela o edifício, por conta da diversidade de sócios.
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Alguns quadros expostos na galeria de arte Lady in Red |
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A arte coabita o edifício com a produção vinho |
É esta galeria, repleta de quadros e esculturas, que atravessamos juntos, em direção a uma porta de madeira de características semelhantes às das capelas antigas: alta, pesada e muito possivelmente 2 a 3 vezes mais o meu tamanho. Do outro lado, silos de metal alinhados delimitam corredores e armazenam alguns dos vinhos presentes na adega. Ao fundo de uma destas passagens, uma sala muito bem iluminada por luz natural desperta-me curiosidade.
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Silos onde algum do vinho é armazenado |
Trata-se de um laboratório, recheado de tubos de ensaios, papeis anotados e materiais de escrita, e à medida que vou observando com detalhe as suas características, João Marques vai narrando os seus significados e funções.
“Testes de acidez”, “testes da sulfurosa”, “certificação do vinho” são alguns dos termos técnicos com que me vai explicando processos, enquanto folheia papeis pousados em cima da bancada, apontamentos que dão conta do trabalho e precisão com que a análise vinícola é efetuada.
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Laboratório responsável pela realização dos testes nos mais diversos vinhos |
Ainda assim, e de acordo com as suas próprias palavras, o laboratório está “desatualizado” e longe até de seguir as normas legalmente propostas. “Mesas de madeira já não se usam”, assim como alguns dos dispositivos ali expostos. Não só o laboratório, na verdade, muitos são os locais ou não utilizados ou obsoletos que compõem as salas do edifício.
A galeria contém o trabalho de cerca de 30 a 40 artistas, de acordo com Daniela e Vasco, responsáveis pela sua manutenção. Uma grande parte está exposta em paredes visivelmente degradadas, sob um teto coberto por telhas com evidentes orifícios.
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Vasco e Daniela trabalham no amplo espaço da galeria de arte Lady in Red |
Tomando um elevador, somos transportados para a cave. Na sala de montagem de garrafas, um aparelho de rádio ecoa uma música tradicional portuguesa. É-me explicado o processo de montagem e de colocação da rolha numa garrafa de vinho. Dispostas muito próximas uma das outras, as máquinas trabalham automaticamente. Seguimos na direção de um arco de parede aberto. Neste espaço predomina um cheiro adocicado característico, ou não estivéssemos rodeados de barris, todos eles contendo substâncias de cariz alcoólico elevado, como a água ardente. A temperatura também é diferente, um pouco mais fria, cumprindo os requisitos de um armazém de conservação de bebidas espirituosas.
Subindo as escadas curtas e até ligeiramente pouco iluminadas, regresso à receção, ponto de partida desta minha visita à Única - Adega Cooperativa do Algarve, um lugar tão histórico e com tanto potencial.
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