Perfil | Laura Pimenta
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O ator conta cerca de 13 anos de carreira. Fotografia de Pedro Sadio |
Ator e encenador, João Duarte Costa é licenciado pelo Conservatório de Teatro, Escola Superior de Teatro e Cinema, do Instituto Politécnico de Lisboa. Fez um BA em Acting na Guildhall School of Music and Drama, em Londres, e várias formações complementares no Conservatório Real de Bruxelas e em escolas de teatro em Espanha, França e Turquia.
O seu percurso no mundo do teatro teve início ainda nos tempos de escola. “Comecei, ingenuamente, a fazer teatro no clube da escola, ainda no ensino básico, sem pretensões algumas ou ideias de seguir essa carreira”, refere João Duarte. Entretanto, algo mudou: “No secundário foi diferente. A professora responsável pelo grupo de teatro da escola sempre me incentivou muito a ler, a pensar os espetáculos que fazíamos, e foi nessa altura que começou a fascinar-me todo o processo de concepção de um espetáculo”.
Maria João Brasão, a professora responsável pelo grupo de teatro (En)Cena, que João Duarte frequentou durante o ensino secundário, conta que o ator representou em peças como “A Lua de Joana”, “O Auto da Barca do Inferno” e “O Principezinho a quatro línguas”, tendo esta última sido apresentada no Festival de Teatro Escolar em Portalegre e também nas cidades de Beja e Moura.
Para além do teatro, a docente destaca ainda a sua participação "já no décimo segundo ano, no Projeto Cinema CCAJ, em parceria com a Associação Os Filhos de Lumière e a Cinemateca Francesa, em Paris, tendo feito parte como ator do filme ensaio, «Até Amanhã»”.
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João Duarte Costa foi ator no filme “Até Amanhã”, em 2007, no âmbito do Projeto Cinema Cem Anos de Juventude |
Foi também Maria João Brasão "que me falou do conservatório, até aí inexistente no meu universo”, afirma o ator. Em 2007, realizou as provas de ingresso para a Escola de Teatro, onde entrou. “A partir daí comecei a ter contacto direto com o teatro e o meio. Depois seguiram-se os primeiros espetáculos profissionais, com diferentes companhias de diferentes géneros e a aposta contínua e constante na formação”, refere.
O início de uma carreira
Em 2008, ainda durante a sua formação no conservatório, João Duarte Costa estreou-se como profissional. O ator subiu ao palco do Teatro da Trindade, com o espetáculo “Aqui no Paraíso”, baseado na obra “A hora difícil” de Pär Lagerkvist. “Foi o primeiro espetáculo que fiz a receber cachet, e foi o primeiro contacto com aquela realidade. Lembro-me de ir muito cedo para o teatro nos dias de espetáculo, arrumar os adereços, pensar sobre o que tinha corrido menos bem na noite anterior... ritual que ainda hoje mantenho”, relembra o ator.
Ao longo dos anos, João Duarte tentou ser eclético na escolha dos seus trabalhos. Trabalhou no Parque Mayer, no Teatro Maria Vitória, onde experimentou o teatro de revista. Com a companhia Teatro Praga fez a “Tropa Fandanga”, no Teatro Nacional D. Maria II, “Tear Gás” na Culturgest e “Xtròrdinário” no Teatro S. Luiz. Trabalhou, também, no Teatro Politeama, com Filipe La Féria, onde participou nos espetáculos “Amália” e “As árvores morrem de pé”. Fez também o espetáculo “Radiografia de um nevoeiro imperturbável”, no Teatro Nacional D. Maria II.
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“Xtròrdinário” estreou a 10 de maio de 2019, no Teatro S. Luiz. Fotografia de Alípio Padilha |
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“Empowerbank” foi o primeiro espetáculo que o ator realizou durante a pandemia. Fotografia de Joana Correia |
Entre todos os seus trabalhos, o ator destaca “Radiografia de um nevoeiro imperturbável” como o mais marcante. “Exigiu de mim uma disponibilidade que talvez o tenha tornado um dos espetáculos que mais me marcaram”. João Duarte recorda o processo de ensaios, “muito intenso e fisicamente muito desgastante”, que incluiu aulas de movimento e preparação física. “Tratava-se de um espetáculo em que o ponto motor era o movimento. Lembro-me de ser um processo profundamente doloroso, mas altamente prazeroso”, refere.
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“Radiografia de um nevoeiro imperturbável” foi o espetáculo que mais marcou o ator. Fotografia de Bruno Simão |
Da representação à encenação
Nos últimos três anos, João Duarte Costa tem realizado vários projetos em parceria com o Grupo de Teatro (En)Cena, desta vez, exercendo o papel de encenador.
O ator regressa agora ao local onde tudo começou, encenando espetáculos como “O Feiticeiro de Oz”, “Diário de Anne Frank”, “Recordar o Festival da Canção” e “O Principezinho”, e também o filme “A Noite”, baseado na obra homónima de José Saramago.
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Há cerca de três anos que João Duarte realiza espetáculos com o (En)Cena. Fotografia de Daniel Galvão |
No trabalho que realiza com os jovens, o encenador transmite conhecimentos e conselhos para que, enquanto atores, estes possam progredir e superar-se a si mesmos em cada espetáculo. “O João mostra-nos que nada é perfeito mas que, com trabalho e esforço, conseguimos chegar lá”, diz José Vitória, membro recente do (En)Cena. “Transmite-nos um sentido de responsabilidade em relação ao que fazemos e espírito de equipa. Todos somos responsáveis pelo trabalho uns dos outros”, afirma Anita Costa.
“É uma pessoa muito acessível e com quem eu gosto muito de trabalhar”
Dos vários trabalhos realizados entre o encenador e o grupo, a maioria caracteriza-se pelo estilo musical, algo a que os jovens não estão habituados. “Trabalhar com o João é, ao mesmo tempo, desafiante e gratificante”, diz Filipe Vargas, ator do grupo (En)Cena. “É muito exigente, são espetáculos de um nível acima do que estamos habituados, mas acaba por ser divertido e desafiante por nos apresentar novas formas de fazer teatro. É gratificante ver o resultado final e ver que ficou bom, sabemos que foi graças a ele”. A proximidade de idades é, também, algo que torna o processo de ensaios mais dinâmico e agradável. De acordo com Miguel Gregório, outro jovem que integrou, recentemente, o grupo (En)Cena, “quando vamos para um ensaio, vamos com uma mentalidade não só de trabalho, mas também de diversão. É um ambiente sério e, ao mesmo tempo, dinâmico e divertido”.
A atriz Rita Paixão, que também tem colaborado com o grupo (En)Cena, afirma que “trabalhar com o João é muito fácil, porque ele tem uma grande paixão pelo que faz e transmite-a facilmente às outras pessoas. É uma pessoa muito acessível e com quem eu gosto muito de trabalhar”.
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Os jovens recordam o processo de ensaios como algo divertido e, simultaneamente, exigente. Fotografia de Mafalda Silva |
Para os jovens, trabalhar com João Duarte Costa tem um grande impacto a vários níveis. “O trabalho com o João fez-me ganhar mais autoconfiança. Comecei a ver o teatro com outros olhos, a fazer isto conseguimos ser felizes e animar a malta”, refere José Vitória.
“Por nos proporcionar experiências novas, ensinou-me a confiar mais nas minhas capacidades enquanto ator. Foi a partir do momento em que fiz espetáculos com o João que tive a certeza e o desejo de querer seguir teatro. Se daqui a uns anos esse sonho se tornar uma realidade, foi graças a ele e àqueles espetáculos”, afirma Filipe Vargas.
No entanto, os ensinamentos transmitidos pelo encenador não se adequam apenas ao teatro. “Trabalhar com o João fez-me perceber que devemos fazer o que realmente gostamos e sentimos, independentemente do que os outros pensem”, diz Miguel Gregório.
Todos os projetos realizados pelo encenador, em parceria com o grupo (En)Cena e com a Câmara Municipal de Serpa, abrangem “várias dimensões de intervenção cultural junto da comunidade”, refere Odete Borralho, vereadora da cultura de Serpa. Trabalhar com o João Duarte tem sido muito motivador e gratificante, quer pela sua entrega total a todos os projetos e desafios, quer pela sua enorme capacidade mobilizadora de todos os envolvidos, principalmente dos jovens que têm tido a oportunidade de participarem nos projetos culturais desenvolvidos no último ano e em tempos de pandemia”, refere a vereadora. “O seu talento, generosidade, empenho, entrega e dedicação ao trabalho são muito inspiradores. O seu enorme talento tem, sem dúvida, um valor marcante para a cultura em Serpa e no país”.
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João Duarte Costa é um dos principais dinamizadores da cultura em Serpa Fotografia de Vítor Brasão |
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