Mudanças de vida: da política ao ciclismo

Nasceu a 12 de agosto, numa das tardes mais quente do verão de 1971, em Tavira. Filho de Fernanda Viegas, colaboradora na empresa Portugal Telecom, e do contabilista Gilberto Viegas, e irmão da também contabilista Ana Viegas, Fernando Viegas é um aficionado por duas áreas distintas: o ciclismo, que pratica diariamente, e a política, uma carreira suspensa no presente. 
Perfil | Rita Viegas

Cresceu na localidade da Luz, numa pequena quinta dos avós situada a 5 minutos da Ria Formosa, uma das Sete Maravilhas Naturais de Portugal. Com 4 anos, aprendeu a pedalar naquele que, hoje, considera ser o melhor meio de transporte para a sociedade. “O avô percorria, diariamente, dezenas de quilómetros numa bicicleta, por ser carteiro. O Fernando mostrou muita curiosidade e quis experimentar”, relata o pai, Gilberto Viegas. Desde então, as tardes na casa dos avós eram passadas a pedalar. Treinava diariamente e, com o tempo, o entusiasmo pela modalidade cresceu.  
Já na escola primária, experimentou o desporto mais praticado pelos amigos: futebol. “Como o meu pai foi guarda-redes no Sporting Clube Olhanense, inscreveu-me. Na maioria dos dias, íamos os dois para Olhão: eu para treinar e ele para ver, ao pormenor, todos os erros que cometia. Lembro-me que, no carro, era raro o dia em que não discutíamos”.  Com a motivação dada pelo pai, Fernando mostrou muito empenho e dedicação no futebol e, aos 8 anos, foi convocado para integrar o escalão seguinte. “Estava radiante por ter a oportunidade de partilhar o campo e o jogo com os jovens mais velhos. Foi também nesta idade que achou por bem colocar o futebol como prioridade na vida, faltando diversas vezes à escola e baixando drasticamente as notas” refere a mãe, Fernanda. Jogava futebol e pedalava nos tempos livres. Quando lhe restava tempo (algo pouco frequente), realizava as tarefas da escola. O pai continuava a transmitir um sentimento de força, por acreditar numa possível carreira futura no futebol para o filho. A irmã, Ana, era uma aluna brilhante, contrariamente a Fernando que, no oitavo ano de escolaridade, reprovou. Foi em junho de 1984, no final do ano letivo, que os pais tomaram conhecimento da situação: “Optámos por retirá-lo do futebol por uns tempos. Fiz o pai perceber que o talento do miúdo na modalidade não era suficiente para atingir uma carreira profissional de sucesso”, relembra Fernanda.

Com o passar dos anos, Fernando provou que tinha potencial para ser tão bom na escola como no desporto. Destacava-se nas disciplinas de história, língua portuguesa e filosofia. Escrevia de uma forma muito correta e original para um jovem de tão tenra idade. Venceu um prémio, a nível regional, devido a uma composição escrita realizada no 11.º ano. “Não me recordo do nome do concurso, mas guardo na memória o momento em que fui galardoado por ter feito uma composição excecional sobre José Saramago”. Desta forma, dedicava-se à escola e ao ciclismo, que praticava com muita regularidade “nos recantos mais encantadores do município de Tavira”, conta.

Um novo desafio: a Política

Filho de pais pouco ativos na vida política, embora socialistas, Fernando lutou por um percurso diferente: “Eu entrei na política da forma mais simples que existe. Um dia fui assistir a uma atividade do PSD (partido com o qual simpatizava) e decidi inscrever-me. Os dirigentes do PSD em Tavira eram meus amigos e por isso pedi-lhes uma ficha de inscrição. Tinha 20 anos e foi no ano de 1991”.

Devido à idade, ficou inscrito na Juventude Social Democrata (JSD) e, nesse mesmo ano, associou alguns amigos, também apreciadores de política. Assim, elaboraram uma lista para a Comissão Política de Secção (órgão de direção concelhio da JSD), onde Fernando figurava como vice-presidente.

Em 1993, participou pela primeira vez em listas autárquicas, pelo PSD, com a candidatura à Assembleia Municipal de Tavira. Não foi eleito, mas, um ano mais tarde, em 1994, foi substituir um outro deputado que havia renunciado ao mandato. 

“Foi então o primeiro cargo público que teve: Membro da Assembleia Municipal de Tavira. Sentíamos um misto de emoções. Por um lado, o entusiasmo ao vê-lo tão ativo na vida política e com capacidades para desempenhar funções em cargos como este. Por outro, a sensação de que, dali em diante, teríamos que torcer pelo Partido Social Democrata, algo que nunca imaginámos fazer”, confessa a mãe de Fernando.

Em 1997 voltou a integrar as listas do PSD ao mesmo órgão autárquico, mas desta vez logo eleito. Foi no ano em que Macário Correia ganhou as eleições para a Câmara Municipal de Tavira. No entanto, entre 1993 e 1997, “aconteceram outras coisas muito significativas no meu percurso político”, assinala. 

Fernando Viegas e Macário Correia, ex-presidente da
Câmara Municipal de Tavira. Fotografia de Jesualdo de Jesus
Em 1994, ascendeu a presidente da JSD de Tavira e a vice-presidente da JSD do Algarve e no ano seguinte, em 1995, venceu as eleições para presidente da JSD do Algarve, tornando-se líder distrital. Nesse ano de 1995, foi candidato a Deputado à Assembleia da República pelo círculo eleitoral de Faro. “O cabeça de lista era António Capucho, dirigente destacado do PSD desde a sua fundação e muito próximo do fundador Francisco Sá Carneiro. 1995 foi o ano em que o PSD perdeu as eleições para António Guterres do PS e eu não cheguei a ser eleito”. 

Em dezembro de 1995, chegou a dirigente nacional da JSD. Integrou como vogal a lista da Comissão Política Nacional liderada por Jorge Moreira da Silva que, nesse ano, sucedeu a Pedro Passos Coelho como líder da JSD. Tinha então, com 24 anos, chegado ao topo da estrutura da JSD a nível nacional, quatro anos depois de se ter feito militante de base.

Em 1998, tomou a decisão de se candidatar a presidente do PSD de Tavira, eleição que ganhou. Um ano antes, tinha deixado todos os cargos que tinha na JSD, presidente da JSD do Algarve e vogal da Comissão Política Nacional. Antes de chegar à idade limite na JSD (30 anos), cessou todas as funções que tinha na organização política de juventude do PSD.

Em dezembro de 2001, integrou a lista de candidatos à Câmara Municipal de Tavira (segundo mandato de Macário Correia). Por poucos votos não foi eleito como vereador, tendo assumido o cargo de Adjunto do Presidente.

“O Fernando estava no auge da vida profissional e pessoal e toda a família mostrava orgulho no seu notável percurso. Neste ano de 2001, já estava casado e esperava uma filha no mês de julho do ano seguinte” conta a irmã, Ana. Em 2005 e “já pai de uma menina linda”, como refere, foi novamente candidato a vereador da Câmara Municipal de Tavira, mas desta vez em lugar elegível (terceiro da lista), tendo sido eleito.

Durante quatro anos, até outubro de 2009, foi vereador com funções executivas na autarquia de Tavira e tinha, principalmente, os pelouros das Obras Municipais, mas também o Ambiente, a Informática, o Trânsito, a Rede Viária, os Equipamentos Municipais, entre outros.

Em 2009, voltou a integrar a lista de candidatos à Câmara Municipal de Tavira, mas desta vez foi o PS que ganhou. Foi eleito, mas tendo em conta que concorria por outro partido, ficou como vereador da oposição.

“Em 2013, no final do mandato, terminei as minhas funções em cargos públicos na autarquia de Tavira. Entre eleito e nomeado, foram quase 20 anos de dedicação à causa pública como autarca. Depois dessa data, iniciei um período de distanciamento da política que até hoje se mantém”.

Uma vida diferente, sobre rodas

Também em 2013, depois de um misto de alegrias e exaustões na vida política, optou por alterar os hábitos e rotinas. Assim, juntamente com um grupo de amigos que gostavam de andar de bicicleta, fundou o Clube Bike Team de Tavira, no qual até hoje se mantém como presidente da Assembleia Geral.

Atualmente, pratica ciclismo com muita regularidade. Faz, em média, 350 quilómetros semanais e já realizou diversos percursos desafiantes na modalidade, entre os quais os Caminhos de Santiago de Compostela (com partida de Chaves), feito duas vezes, uma ida a Fátima em peregrinação, vários percursos em Trás-os-Montes anualmente, inúmeras provas na região algarvia e ainda a travessia da Estrada Nacional 2, com partida de Chaves e chegada a Faro – 738 quilómetros em apenas 6 dias. “Com 49 anos, são poucos os senhores que conseguem ter a minha força de vontade em cima de uma bicicleta. É fundamental ter garra para nunca desistir. Neste ano de 2021, irei realizar, pela segunda vez na minha vida, uma ida a Fátima em bicicleta num curto período de 3 dias”, revela.

A diferente faceta da carreira

Profissionalmente, foi bancário entre os anos de 1995 e 2016 (com uma interrupção de oitos anos em que esteve em funções na Câmara Municipal de Tavira) e hoje dedica-se à atividade financeira da intermediação de crédito. Pelo meio deste percurso, licenciou-se em Ciências Sociais e Políticas pela Universidade Aberta e completou o Mestrado em Gestão Empresarial na Faculdade de Economia da Universidade do Algarve.

Atualmente, Fernando Viegas dedica-se à atividade financeira
Licenciou-se tarde porque não soube dar, em devido tempo, importância ao que realmente importa. Primeiro porque quis começar a trabalhar para ter a sua independência, e não foi capaz de compatibilizar as duas coisas, depois porque assumiu responsabilidades públicas que lhe consumiam muito tempo e não davam espaço para o foco no estudo. “Foi um erro que o ajudou a crescer e a perceber a importância da formação na vida do ser humano” aponta o pai, Gilberto.

Apesar de ter sido convidado diversas vezes para voltar a participar ativamente na política e ser candidato, recusou sempre. “A vida mudou, eu mudei e os meus interesses e motivações passaram a ser outros. Sou um eleitor atento que nunca falhou um único acto eleitoral desde a primeira vez que votei (janeiro de 1991)”.

Não tem motivação nem vontade de voltar a dedicar-se à política, no entanto, também não é capaz de dizer: nunca mais.

“Tenho orgulho no meu percurso, mas, sabendo o que sei hoje, teria feito muita coisa diferente. Por isso, incentivo a minha filha a não perder tempo, a focar-se no que realmente importa, a não desistir à primeira dificuldade e a trabalhar muito para não ser apenas mais uma, 
mas para ser a melhor. 
Fernando com a filha, Rita, no dia do seu 18º aniversário.

Fico muito feliz pelo percurso que a Rita está a desenhar na política, integrando desde já a Juventude Social Democrata em Albufeira. Acredito que a menina dos meus olhos seja uma grande mulher, com capacidades de mudança e inovação no nosso país” termina, com um brilho nos olhos. 

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