"Nunca quis pensar muito no assunto. Eu tinha a consciência de que estava grávida e assumia-o sem problemas para as pessoas. O mais difícil foi encará-lo para mim mesma, na quantidade de mudanças que a minha vida teve naquela altura".
Jessica Palmeiro
Maria Armanda Pinho Antunes, de 34 anos, casada e com duas filhas, engravidou pela primeira vez quando tinha apenas dezoito anos. Em junho de 2001 estava a terminar o 12.º ano e no dia do exame nacional de Matemática começou com enjoos muito fortes. “Implorei para sair da sala e foi um escândalo! O professor vigilante chamou a secretária geral de exames, que era a minha professora de biologia, foi uma sorte e lá me deixaram ir com ela à casa de banho”, recorda.
Percebendo que algo estava errado, decidiu fazer um teste de gravidez que deu positivo, dando início a todo um drama. Em pânico, disse ao companheiro “Miguel, vou atirar-me do pontão da praia dos pescadores!” e ele respondeu-lhe “se te atirares dali não morres”.
O primeiro membro da família a saber ficou incrédulo, mas acabou por compreender a situação porque já a tinha vivido exatamente com a mesma idade. “Mãe, vais ser avó, a Armanda está grávida.”, conta Miguel. Mas o pior ainda estava por vir. Armanda estava a dormir, a sua mãe entrou pelo quarto adentro contando-lhe escandalosamente um boato de uma rapariga da vizinhança que estava grávida. “Ensonada e sem noção respondi-lhe: e então? Eu também estou”. Nessa noite já ninguém dormiu naquela casa só se ouviam os gritos de uma mãe desesperada e louca de raiva por assistir a morte trágica de toda uma vida perfeita que tinha imaginado para a sua filha.
Setembro acabou por chegar e, aos quatro meses de gravidez, estava na altura de tomar uma decisão em relação ao seu futuro educacional. Só concorreu para a Universidade do Algarve: “nunca cheguei a fazer os cálculos da média, preenchi as opções todas e pensei que se entrasse era porque tinha mesmo de ir”, conta. Entrou no antigo curso de Professores de Ensino Básico de Matemática e Ciências e viveu durante o primeiro semestre em Faro. “Estive sempre muito bem na residência, era acarinha e tratavam-me por «a grávida»”.
O ano de 2002 estava próximo e o novo rebento a caminho. Armanda e Miguel decidiram que estava na altura de irem morar juntos e ficaram numa casa que pertencia aos avós do Miguel nas Ferreiras. O nascimento estava previsto para março, mas Armanda ficou doente na paragem entre o primeiro e o segundo semestre da faculdade, o que antecipou o acontecimento para o dia 3 de fevereiro. “Fiquei com a menina nas três primeiras semanas”, conta Armanda.
Entretanto, a rotina académica estava de regresso, por isso, a pequena Margarida teve de ir para a ama com apenas um mês de vida. Para estar perto da sua filha, Armanda deslocava-se todos os dias da semana até Faro regressando ao final do dia às Ferreiras. Os domingos eram difíceis, com roupa para passar a ferro e uma pilha de livros para estudar até às três ou quatro da manhã: “era complicado manter a casa em ordem e o Miguel trabalhava imenso, só estava em casa na segunda-feira”.
Foram quatro anos bastante intensos, com várias lágrimas de sacrifícios. Para Armanda, muitas vezes os estudos foram o seu refúgio, a sua fuga da rotina de dona de casa e de mãe: “enquanto estava na universidade era igual às outras jovens da minha idade, apesar de não compreender as atitudes das minhas colegas, que tinham a vida facilitada e não sabiam dar valor a isso”.
Em 2006, já casada, acabou o curso com média de 14. “Fui a segunda melhor aluna do curso na minha turma”, reforça. Começou a trabalhar em Albufeira, onde lecionava atividades extracurriculares em três escolas, ao mesmo tempo que dava explicações. Para chegar ao fim desta grande caminhada Armanda e o seu marido abdicaram de muitas coisas. “Sem o Miguel nunca teria conseguido acabar o curso, ele abdicou de muito, somos o pilar um do outro porque quando um vacila o outro está lá para amparar a queda, é por isso que ainda hoje continuamos juntos”, confessa. Hoje, para além da sua filha de dezasseis anos, Armanda e Miguel têm outra filha, com um.
Jessica Palmeiro
Maria Armanda Pinho Antunes, de 34 anos, casada e com duas filhas, engravidou pela primeira vez quando tinha apenas dezoito anos. Em junho de 2001 estava a terminar o 12.º ano e no dia do exame nacional de Matemática começou com enjoos muito fortes. “Implorei para sair da sala e foi um escândalo! O professor vigilante chamou a secretária geral de exames, que era a minha professora de biologia, foi uma sorte e lá me deixaram ir com ela à casa de banho”, recorda.
Percebendo que algo estava errado, decidiu fazer um teste de gravidez que deu positivo, dando início a todo um drama. Em pânico, disse ao companheiro “Miguel, vou atirar-me do pontão da praia dos pescadores!” e ele respondeu-lhe “se te atirares dali não morres”.
O primeiro membro da família a saber ficou incrédulo, mas acabou por compreender a situação porque já a tinha vivido exatamente com a mesma idade. “Mãe, vais ser avó, a Armanda está grávida.”, conta Miguel. Mas o pior ainda estava por vir. Armanda estava a dormir, a sua mãe entrou pelo quarto adentro contando-lhe escandalosamente um boato de uma rapariga da vizinhança que estava grávida. “Ensonada e sem noção respondi-lhe: e então? Eu também estou”. Nessa noite já ninguém dormiu naquela casa só se ouviam os gritos de uma mãe desesperada e louca de raiva por assistir a morte trágica de toda uma vida perfeita que tinha imaginado para a sua filha.
Setembro acabou por chegar e, aos quatro meses de gravidez, estava na altura de tomar uma decisão em relação ao seu futuro educacional. Só concorreu para a Universidade do Algarve: “nunca cheguei a fazer os cálculos da média, preenchi as opções todas e pensei que se entrasse era porque tinha mesmo de ir”, conta. Entrou no antigo curso de Professores de Ensino Básico de Matemática e Ciências e viveu durante o primeiro semestre em Faro. “Estive sempre muito bem na residência, era acarinha e tratavam-me por «a grávida»”.
O ano de 2002 estava próximo e o novo rebento a caminho. Armanda e Miguel decidiram que estava na altura de irem morar juntos e ficaram numa casa que pertencia aos avós do Miguel nas Ferreiras. O nascimento estava previsto para março, mas Armanda ficou doente na paragem entre o primeiro e o segundo semestre da faculdade, o que antecipou o acontecimento para o dia 3 de fevereiro. “Fiquei com a menina nas três primeiras semanas”, conta Armanda.
Entretanto, a rotina académica estava de regresso, por isso, a pequena Margarida teve de ir para a ama com apenas um mês de vida. Para estar perto da sua filha, Armanda deslocava-se todos os dias da semana até Faro regressando ao final do dia às Ferreiras. Os domingos eram difíceis, com roupa para passar a ferro e uma pilha de livros para estudar até às três ou quatro da manhã: “era complicado manter a casa em ordem e o Miguel trabalhava imenso, só estava em casa na segunda-feira”.
Foram quatro anos bastante intensos, com várias lágrimas de sacrifícios. Para Armanda, muitas vezes os estudos foram o seu refúgio, a sua fuga da rotina de dona de casa e de mãe: “enquanto estava na universidade era igual às outras jovens da minha idade, apesar de não compreender as atitudes das minhas colegas, que tinham a vida facilitada e não sabiam dar valor a isso”.
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A 13 de maio de 2006, na Benção das fitas da UAlg, Armanda via reconhecido o seu percurso de estudante, feito enquanto jovem mãe.
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