Anabela Morte: Feminis Ferventis, "é uma família para a vida toda”

A escolha do nome da tuna foi resultado de um brain storming entre todas. "Lancei este nome porque fui aluna de Latim no liceu e peguei na ideia da Versus Tuna. Todas vibrámos com o nome", conta Anabela Morte.
Catarina Cunha
Anabela da Conceição Ferreira dos Santos Morte, de 49 anos e com 3 filhos, nasceu em Torres Novas a 6 de Dezembro, uma sexta-feira, ao final da tarde. Em pequena era faladora e cheia de vida. Começou o seu percurso escolar num colégio de freiras, no entanto, devido à sua personalidade, não se integrou no local e a sua mãe decidiu que seria melhor transferi-la para uma escola pública. Era uma criança esperta e, por isso, passou diretamente do 1.º para o 3.º ano. Foi em Torres Novas que concluiu o 1.º ciclo e iniciou os estudos do 2.º ciclo, que terminou já no Algarve, em Portimão. Do 7.º ano de escolaridade ao 12.º frequentou o Liceu de Faro, a Escola Secundária João de Deus. Foi sempre de Humanidades, uma vez que o gosto pela leitura e a escrita sempre a acompanhou na sua vida até aos dias de hoje.

Prestes a ingressar na universidade decidiu que queria seguir o curso de Direito para agradar a sua mãe, mas acabou por não entrar e, aos 17 anos, foi trabalhar para a agência de viagens Abreu, que tinha na altura um escritório em Montenegro. Foi então que Anabela Morte ganhou coragem e se matriculou no curso de Educação de Infância que era, de facto, aquele que ela queria. Com média de 17,3, entrou na universidade em Portalegre, local que escolheu para que pudesse sair de casa. A sua mãe até hoje pensa que entrou na sua última escolha, mas como gostou muito do curso decidiu não mudar. Figura muito presente na sua vida, a mãe de Anabela impôs-lhe que se mudasse e estudasse em Faro quando iniciou um namoro.

Anabela cedeu ao pedido da mãe e ingressou na Universidade do Algarve (UAlg) para continuar os seus estudos universitários, no entanto nem todas as suas disciplinas foram acreditadas e por isso teve que repetir o 1.º ano. Lembra-se que foi em Abril de 1992 que a Universidade do Algarve assistiu à fundação da Versus Tuna, um grupo de rapazes que se juntou para cantar. Algumas raparigas quiseram juntar-se ao grupo mas como era uma tuna masculina foi-lhes negado o acesso. Descontentes com a situação, surgiu a ideia de formarem uma tuna feminina. Anabela tinha no seu percurso de vida participações no Choral Phydellius infantil de Torres Novas e no Coral Ossonoba infantil de Faro, e apesar de não saber tocar nenhum instrumento musical não hesitou em juntar-se. Juntamente com a sua irmã, Susana, Juntamente com a sua irmã, Susana, e com outras colegas formou o grupo fundador da Feminis Ferventis. A tuna fundou-se em Dezembro de 1992 e tanto os integrantes da tuna feminina como da masculina foram os primeiros estudantes da academia algarvia a ter traje académico, inspirado na Nobreza do século XIV. 

Anabela foi uma das primeiras aulas da Academia a usar o traje académico devido à sua participação na Feminis Ferventis.

Anabela Morte recorda que a fundação da Tuna Feminina foi um processo complicado, uma vez que tradição nas academias de referência eram as tunas masculinas. Mas o grupo conseguiu e a Feminis Ferventis tornou se uma tuna oficial da Universidade do Algarve, a par da Versus Tuna. Começaram a ensaiar na sala de expressão dramática da ESEC no Campus da Penha. As féfes, nome que usavam entre elas, tiveram a ideia de mandar fazer culotes algarvios, para usarem debaixo da saia do traje. Assim podiam cantar e dançar à vontade, principalmente as pandeiretas, sem mostrar roupa interior. As primeiras músicas foram com letras adaptadas e covers de músicas conhecidas. Anabela recorda-se de uma canção que cantavam com orgulho "O vinho”, "Ao romper da bela aurora" e o hino original da tuna. 

O grupo fundador (que era composto por Anabela e a sua irmã, Susana, Catarina, Magda, Célia, Bárbara, Isa, Cátia, Sandras, Sónia e Nazaré) numa das suas atuações. Anabela recorda esta atuação na Kadoc como “memorável”.

Passados 25 anos, fica a saudade desses tempos. Anabela uma jovem cheia de sonhos e ser uma das co-fundadoras da Feminis Ferventis é algo que a deixa muito orgulhosa. Na altura não equacionava que a tuna feminina iria crescer e alcançar tanto, apesar de saber ter consciência que estava, juntamente com as outras féfes, a iniciar algo que deixariam como legado para as gerações futuras. Ganharam muito mais do que o prémio de melhor pandeireta, com Cátia. Ganharam muita coisa ao longo de 25 anos. Anabela diz que ganharam todas, a que estiveram, a que estão e que estarão. “É uma família para a vida toda” e, por isso, tenta estar sempre presente na vida da tuna. 

Anabela foi a única féfe do grupo fundador que compareceu num almoço realizado há 3 anos que pretendia juntar as gerações da Feminis Ferventis.

Hoje em dia tenta passar esta história aos seus 3 filhos como uma mensagem de que devem ser felizes ao máximo e empenharem-se, deixando assim uma pegada de esforço. No seu ponto de vista, uma tuna representa uma academia, o espírito académico e a vontade de fazer algo de que toda a universidade se orgulhe. Anabela não tocava nenhum instrumento, mas uma das suas filhas toca. A sua filha mais velha, a Margarida, vai entrar na UAlg no próximo ano letivo e toca guitarra acústica e eléctrica. “Quem sabe não será a primeira filha de uma Feminis Ferventis original a entrar na tuna 26 anos depois. Isso seria uma alegria imensa para mim”, confessa Anabela Morte.

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