Starbucks ou a nova escola de combate ao racismo

Opinião | David Santos

Ai os senhores são negros? Vou chamar a polícia. Esta foi a ação de um gerente de uma loja da famosíssima cadeia de cafés Starbucks, ao verificar que dois homens negros ocupavam “propriedade privada”. Este fenómeno (nunca antes visto) ocorreu em Filadélfia, EUA e devido a esta infeliz constatação – sim, a de que o interior de um espaço público passa a ser propriedade privada – vão ser encerradas 8000 lojas na tarde de 29 de maio. Tudo para que se realize uma formação sobre a discriminação racial e integração.

Sabíamos que discriminação racial não era um fenómeno novo nos EUA. O que não sabíamos é que um espaço público não podia ser invadido por pessoas com uma cor diferente e que assim já passava a ser propriedade privada. O senhor é branco? Faça favor de entrar, pois este é um espaço público. Ah, o senhor é negro? Não, não… não pode entrar. Está a invadir um espaço alheio. Desta maneira atrevo-me a recorrer àquela expressão muito conhecida: “Para dois pesos, duas medidas”.

Imagem retirada de: https://cronicaglobal.elespanol.com/vida/starbucks-rotulos-catalan_110384_102.html

Segundo o jornal Philadelphia Inquirer, os dois homens estavam à espera de uma pessoa para uma reunião de negócios. Ainda não tinham consumido, quando um deles pede para ir à casa de banho, sendo o acesso negado por um dos funcionários. Depois o gerente chamou a polícia e logo vieram seis agentes. Foi publicado um vídeo do insólito no Twitter e rapidamente a Internet foi abaixo.

Admito que há sítios em que para se ir à casa de banho tenha que se comprar uma aguinha, um pastelinho de nata, uma embalagem de pastilhas. Neste caso, para se ir à casa de banho (coisa que se calhar, neste caso, não chegou a ser feita) tem de se ser discriminado. O que é que a loja de Starbucks de Filadélfia vende? Ah não sabe? Olhe, cá para mim é uma boa dose de discriminações!

O mais engraçado disto tudo é que, para amenizar a situação – quase colocando uma camuflagem, o autêntico manto da invisibilidade – cerca de milhares de lojas vão fechar e os funcionariozinhos maus vão aprender que não se deve discriminar. Meus amigos, tal como se aprende a andar de bicicleta, o racismo é coisa que também se assimila. Algo que a sociedade nos impõe e que marginaliza, que exclui e que prejudica. Agora vamos lá todos ter calminha, que, daqui a sensivelmente um mês, já não haverá racismo nestas lojas.

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