Mariana Danu: “posso dizer do fundo do meu coração que nunca tive nenhum problema com o povo português”

Mariana Danu, 40 anos, é natural da Moldávia, mas já vive em Portugal há quase 15 anos. Considera-se uma pessoa cheia de sorte, pois tudo o que tem feito ao longo da sua vida tem sido com muito sucesso. Mãe corajosa, dedicada e honesta, como a caracterizam os seus filhos, é uma mulher muito trabalhadora e organizada. Para além do seu trabalho, gosta de dedicar muito do seu tempo às crianças. Adora ensinar e aprender com os mais pequenos. Mariana Danu contou ao Olhares Académicos um pouco da sua história, deixando o seu testemunho de que viver em Portugal pode ser algo maravilhoso.
Entrevista | Victoria Sajin

Olhares Académicos (OA): Qual era a sua profissão na Moldávia e qual é a que exerce atualmente? Qual das duas prefere?
Mariana Danu (MD): Eu concluí os meus estudos na área da História e Literatura. No entanto, a minha profissão na Moldávia era de bibliotecária, fazia atendimento ao público. Atualmente, aqui em Portugal, sou agente numa agência de viagens. Mas não consigo dizer qual delas prefiro, pois adoro tanto uma como a outra.
Mariana Danu é uma imigrante que gosta de viver em Portugal e pretende passar aqui a sua vida.

OA: O que teve de fazer para conseguir exercer a profissão de agente em Portugal? Sentiu algum tipo de obstáculo pelo simples facto de ser de outro país?
MD: Para conseguir exercer esta profissão, que é diferente da antiga, tive, primeiramente, que ter as equivalências dos meus estudos da Moldávia. Mas como tinha uma licenciatura, foi ligeiramente mais fácil obter este emprego. Quanto aos obstáculos, não senti grandes dificuldades, pois é uma agência de viagens que trabalha muito com os emigrantes e, para mim, tornou-se mais fácil pelo facto de conhecer várias línguas como o Romeno, o Russo, Ucraniano, Português e um pouco de Inglês. Assim, tenho mais facilidade e mais à vontade para ajudar e servir os nossos clientes.

OA: Falando um pouco do tempo em que veio para Portugal no ano de 2005, qual foi a principal razão que fez com que deixasse o seu país de origem?
MD: A principal razão foi a reintegração da minha família. Isto porque o meu marido veio para Portugal no ano de 1999, muito tempo antes de nós. Portanto, depois de ter trabalhado aqui alguns anos sozinho, decidimos juntar a família. Queríamos que eu e os meus filhos nos juntássemos ao pai. Não fazia sentido a família estar separada.

OA: Pensa algum dia regressar para o seu país, ou pretende permanecer aqui?
MD: É uma pergunta que não sei muito bem responder, pois não sabemos o que nos espera no dia de amanhã. Mas, por enquanto, prefiro ficar cá, pois quero acompanhar o crescimento dos meus filhos. Eles já estão cá há muitos anos e pretendem seguir a sua carreira e o seu futuro aqui. Por isso, eu prefiro e gostava de ficar cá a acompanhá-los.

OA: Já que falou dos seus filhos, com o que é que eles se ocupam? Estudam ou trabalham?
MD: Tenho um filho com 16 anos e outro com 19. O mais novo está no 10º ano a estudar Turismo, na Escola Secundária Pinheiro e Rosa, e o mais velho está no primeiro ano de Arqueologia na Universidade de Coimbra.

OA: Para que o seu filho mais velho pudesse ir estudar para Coimbra teve de fazer algum esforço extra?
MD: Claro, o maior esforço de todos foi conseguir informar-me, pois há muita informação que, nós pais, não conhecemos. Portanto, eu tive, primeiro, que me informar muito bem para o conseguir ajudar e aconselhar. Mas para mim foi muito difícil poder pesquisar sobre as várias universidade e respetivas faculdades do país e recolher a informação necessária, para ver se encontrava aquilo que ele realmente gostava. Apesar de a decisão final ser dele, como mãe, senti uma pequena pressão, porque tinha medo de não lhe conseguir dar conselhos quando ele me viesse pedir ajuda. Portanto, sim, este foi o maior esforço que eu tive de fazer.

OA: Já em Portugal, foi alguma vez vítima de xenofobia ou alguém a tratou mal a si ou a algum membro da sua família apenas por ser natural de outro país?
MD: Não. E digo não com letra grande. Porque posso dizer do fundo do meu coração que nunca tive nenhum problema com o povo português. Aliás, os meus filhos ficaram logo muito bem integrados na escola e conseguiram rapidamente fazer amigos. Quando eu cheguei cá tive de ter diversos empregos, prestar serviços de limpeza em várias casas e as pessoas com quem eu interagi, como os donos de casa, foram todos muito impecáveis, foram todos muito meus amigos. Aliás, os portugueses e, falando do meu caso e da minha família, foram muito acolhedores e deram-nos sempre apoio nas situações mais difíceis.

OA: Passando para uma pergunta mais geral, considera que qualquer pessoa que decida vir fazer a sua vida para Portugal é bem recebida e integrada pelo povo português?
MD: Eu acho que sim. Claro que há casos e casos, mas tudo depende das pessoas. Porém, na maioria dos casos, e de acordo com o meu conhecimento, quase todas ficam bem integradas, a tal ponto que acabam por ficar cá a viver. Conheço poucos casos de pessoas que, passado pouco tempo, regressem para o nosso país. Quase todos ficaram cá e seguiram o seu caminho aqui em Portugal.

OA: Ditas as suas palavras, considera que os imigrantes têm um papel importante para a situação económica e demográfica de Portugal?

MD: Sim. Aliás, considero que os imigrantes têm um papel muito importante. Por um lado, porque têm aqui a família toda e, cada um deles, o seus emprego também cá. Assim, recebem o seu salário e fazem os seus gastos dentro do país, ajudando, desta forma, para a situação económica. Por outro, têm os seus filhos que contribuem para uma taxa demográfica mais jovem, pois, como sabemos, Portugal vê, cada vez mais, a sua população a tornar-se envelhecida.

OA: Apesar de viverem em Portugal já há muito tempo, ainda têm o costume de seguir as tradições da Moldávia, como o Natal, a Páscoa e as músicas, comidas e espetáculos que estas celebrações envolvem?
MD: Sim, claro. Apesar de vivermos cá, nós trazemos o cantinho santo no nosso coração [Moldávia]. Dentro da nossa casa e entre amigos falamos sempre, em primeiro lugar, a nossa língua para que os nossos filhos não esqueçam a língua materna, para poderem falar com os avós e com os amigos que ficaram lá na Moldávia, pois isso é muito importante. Depois, aquando dos feriados, a Páscoa, o Natal, seguimos as nossas tradições, incluindo a comida, dança, música. Claro que na minha casa, por vezes, também ouvimos música popular moldava.

OA: Sei que participa num projeto cá no Algarve, mais propriamente, faz parte de uma escola paroquial. Qual é a principal função dessa escola e que tipos de atividades é que costuma organizar?

MD: A escola paroquial é uma escola fundada pelo nosso padre ortodoxo Ion Gherbovetschi. A sua principal intenção é juntar as crianças e também os seus pais. Além disso, é também preservar as nossas tradições e os nossos valores tradicionais moldavos. Em primeiro lugar, o mais importante de tudo é ensinar às crianças a sua língua materna, pois a maioria não falam Romeno, a língua da mãe e do pai. Isto porque, na preocupação de aprender Português, eles acabam por se esquecer. Além disso, como grande parte dos jovens nasceram cá, esta nova geração nem sabe sequer falar Romeno. No entanto, como a escola acha muito importante que eles não percam as raízes, além de outras pessoas, têm-me a mim como professora de História e Geografia e também de valores e tradições nacionais. Como me licenciei em História e Literatura e exerci a profissão de bibliotecária, é muito mais fácil de conseguir ensinar as crianças. Para além disso, adoro livros, leio muito a nossa literatura, amo crianças e adoro ensinar e, ao mesmo tempo, aprender com elas.

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