Mário Pires: "No início a intenção não era fazer um rancho mas sim manter os miúdos ocupados".

Aos 66 anos de idade, Mário Pires é um rosto acarinhado e incontornável em Vila Nova de Milfontes, por ter sido o fundador do único rancho folclórico da vila. Desde sempre ligado ao mar, tem ainda uma loja de produtos de pesca e trabalha na Junta de Freguesia como voluntário.
Entrevista | Filipe Vilhena

Olhares Académicos (OA): Fale-nos das suas origens. Sempre viveu em Milfontes?
Mário Pires (MP): Não, nasci no Porto Covo, aqui perto. Vim para cá com 5 anos de idade porque os meus pais vieram para aqui trabalhar, tomar conta de uma quinta. Essa quinta era do dono do Castelo de Milfontes, o Rei D. Luís.
O Castelo de Milfontes- ou Forte de S. Clemente- esteve nas mãos do Rei D. Luís Manuel de Castro e Almeida a partir de 1940.

OA: O que o atrai mais na Vila?
MP: Aqui na Vila? Bem, as praias, sem dúvida. Eu estou ligado à pesca.

OA: E, para além da pesca, esteve também ligado do rancho folclórico como fundador. De onde surgiu esta ideia?
MP: A ideia foi do meu filho Nelson. Naquela altura, e em jeito de brincadeira, falou em formar um rancho, numa das vezes que saímos e fomos assistir a uma atuação de um grupo. Ele teve essa ideia e nós fomos falar com uma senhora daqui, a D. Esmeralda (que infelizmente já faleceu), que havia fundado um rancho nas Brunheiras mas que já não existia, não sei porque motivo. Ela concordou e assim nasceu o Rancho Folclórico da Casa do Povo de Vila Nova de Milfontes. Tudo isto aconteceu num baile na “Parreia da D. Judite” [sítio emblemático na Vila]. Começámos a divulgar a palavra e, pronto, foi assim.
Mário Pires nasceu em Porto Covo mas admite que Milfontes o atrai pelas praias.

OA: Qual era o principal objetivo do grupo?
MP: Quando foi formado, a intenção não era fazer um rancho que representasse Milfontes mas sim manter os miúdos ocupados. Contudo, foi ganhando cada vez mais dimensão ao longo dos anos.

OA: Teve logo apoios financeiros da Câmara ou Junta de Freguesia?
MP: Sim, tivemos subsídios, como ainda continuam a existir. No início, para comprar os trajes foram as mães dos miúdos, mas logo em seguida chegou apoio da Junta de Freguesia de Milfontes.

OA: Como foi para si formar o rancho?
MP: Trabalhei no teatro muitos anos, gosto bastante destas atividades. E não é só isso, o meu objetivo sempre foi manter os miúdos ocupados, para deixar os pais livres um pouco, e só em segundo lugar, formar realmente um grupo representativo das tradições da Vila. Sinto que é isso que está acontecer agora, é pena é não existirem mais miúdos e miúdas.

OA: Por falar na questão da adesão ao rancho, inicialmente, quem aderiu mais: rapazes ou raparigas?
MP: De início estava quase equilibrado, mas sempre houve mais raparigas que rapazes. Tínhamos que colocar um rapaz com dois pares femininos. Elas combinavam alternar nas danças, consoante o seu à vontade com a moda também, e tinha que ser assim.

OA: Já agora, e uma vez que fala nas músicas, onde foram buscar as inspirações para as coreografias?
MP: Bem, algumas músicas foram criadas neste mesmo espaço [na sala de estar de Mário Pires]. Tirávamos inspirações de outros grupos e o meu filho ia tocando e íamos escrevendo os passos. Nos ensaios, os próprios miúdos iam aprimorando a coreografia.

OA: E porque saiu do rancho?
MP: Na altura estava na Junta de Freguesia, tinha a loja [de pesca] e foi difícil conciliar tudo. Mas, de qualquer forma, estou envolvido no rancho na mesma, através das funções que exerço na Junta.

OA: Seria capaz de voltar a estar à frente do rancho?
MP: Não, aquilo foi uma fase. Já passou. Nem tenho vida para isso, não tenho tempo.

OA: Sabe que, atualmente, o rancho atravessa uma crise, com a presença de mais raparigas do que rapazes, que estão reduzidos a 4. A faixa etária é também bastante jovem. O que pensa disto?
MP: É difícil ter um rancho com muitos rapazes aqui, para equilibrar os pares. Quando crescem, começam a namorar e elas não os deixam dançar [risos]. Outros começam a trabalhar ou a estudar. Naquela altura estava mais equilibrado, éramos 60 e estávamos divididos em crianças, juvenis e seniores. Éramos 3 grupos.

Entrevista realizada dia 28 de março de 2018, pelas 15h. Editada dia 30 de março de 2018.

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