O ambiente é posto em risco diariamente por ações humanas, muitas delas realizadas sem a perceção do prejuízo. O projeto algarvio Straw Patrol surgiu com o objetivo de alertar para a problemática do lixo marinho, um dos riscos ambientais existentes.
Bernardo Ferreira
Straw Patrol: a missão de Educar, Reduzir e Proteger
Em Portugal, existem várias ações e campanhas de limpeza das zonas costeiras e de sensibilização para o flagelo do lixo marinho. Uma dessas iniciativas é o projeto algarvio Straw Patrol.
Um vídeo que se tornou viral no YouTube no verão de 2015 mostrando um grupo de biólogos que tinham resgatado uma tartaruga com uma palhinha de plástico no nariz foi a gota de água «para o eu não abordar estas questões publicamente», afirma Carla Lourenço, bióloga marinha no Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve. Foi nessa altura que a Straw Patrol, que significa, em português, patrulha da palhinha, começou a ser idealizada. Carla Lourenço estava a tirar um curso online de Literacia dos Oceanos e foi-lhe pedida a elaboração de um projeto no papel. Quando o submeteu, em janeiro do ano seguinte, «acabei por oficializar a Straw Patrol e começámos, então, no Facebook e nas redes sociais com a divulgação do projeto».
A equipa envolvida preocupa-se com o lixo marinho no geral, mas essa preocupação é acrescida no que toca aos plásticos. «A verdade é que grande parte do lixo marinho é plástico. Estima-se que seja entre 60 a 80%», frisa a bióloga marinha, mencionando também que «grande parte do plástico que é encontrado é descartável, é usado uma única vez e que vai para deitar fora», refere. As palhinhas são um exemplo desse tipo de material plástico descartável. Acresce que estas não são recicladas, dado que «nem todos os plásticos são recicláveis». O facto de serem muito leves, faz «com que cheguem mais depressa aos oceanos», com impacto negativo na vida marinha, como mostra o exemplo do vídeo da tartaruga.
A Straw Patrol foca-se nas palhinhas, em particular, por serem um objeto dispensável. Os químicos que os microplásticos contêm podem afetar-nos diretamente ao entrarem na nossa cadeia alimentar. Os três pilares do projeto são «Educar, Reduzir e Proteger». A sensibilização para este problema é feita através de palestras, voluntárias e gratuitas, sobre o lixo marinho e os plásticos, nas escolas e outras abertas à comunidade, quando são convidados. «Queremos muito levar as pessoas a repensar as escolhas delas e a adotarem práticas mais sustentáveis e que ajudem realmente o planeta», revela Cara Lourenço. «A parte da educação é realmente muito importante e é um dos nossos focos principais para depois levarmos à redução e à proteção dos ecossistemas marinhos». As ações de limpeza que a equipa promove mensalmente em zonas costeiras contribuem para a redução e proteção, mobilizando vários voluntários.
Na Carta de Compromisso da Associação Portuguesa do Lixo Marinho, este tipo de poluição é definido como «qualquer material sólido persistente, fabricado ou processado, que é descartado, eliminado ou abandonado no ambiente marinho e costeiro». Estes resíduos podem ser, deliberada ou acidentalmente, deixados numa zona marinha ou costeira ou ser para lá transportados indiretamente «através de cursos de água, tempestades, ventos ou por animais», o que agrava ainda mais o problema.
O lixo marinho abrange vários materiais, mas o mais comum é o plástico, sendo que existem «inúmeras evidências que os resíduos de plástico correspondem a 80 - 90% de todo o lixo encontrado em praias e zonas costeiras e também em rios, estuários e no fundo marinho». Este problema tem vários efeitos nos ecossistemas. Regista-se o aprisionamento de animais nos resíduos e a ingestão de lixo, que pode levar a morte por malnutrição ou asfixia. A ingestão de plásticos é especialmente nefasta, dado que estes absorvem compostos químicos tóxicos que estão presentes no mar. Ao serem introduzidos no organismo dos animais, podem provocar problemas no funcionamento dos seus órgãos. Outro prejuízo é o transporte de exemplares marinhos para locais para onde normalmente não iriam, o que pode afetar os ecossistemas locais. Também a maquinaria necessária para remover este tipo de poluição é prejudicial, dado que pode danificar os habitats costeiros. Por estes motivos, o lixo marinho afeta a sustentabilidade das populações aquáticas, nomeadamente de espécies com interesse comercial.
Os impactos acima referidos podem não demover as pessoas, dado não as afetarem diretamente. Contudo, os efeitos que serão agora abordados envolvem as atividades humanas. Para começar, a diminuição dos stocks de peixe afeta a rentabilidade deste setor. Também a economia do turismo é afetada pelas praias contaminadas por lixo, que já não atraem visitantes. A necessidade de limpeza destas áreas leva as autoridades locais a despenderem anualmente de uma fatia significativa do seu orçamento. Mas os perigos que mais preocupam as populações relacionam-se com a saúde humana. De facto, objetos perigosos presentes no areal podem ferir as pessoas e provocar a transmissão de doenças infeciosas. Para além disso, a contaminação das espécies marinhas com compostos químicos tóxicos pode afetar gravemente o bem-estar dos consumidores.
Voluntários e entidades unidos para «deixar o mundo melhor»
A Câmara Municipal de Faro organiza, anualmente, uma mega limpeza da Ria Formosa, com ações em vários locais. A 12.ª edição do evento Limpar a Ria Formosa contou com o apoio de diversas entidades e a participação de muitos voluntários, que, apesar das condições meteorológicas pouco convidativas, com o vento a soprar fortemente, escolheram passar a manhã de sábado a ajudar o ambiente. A Straw Patrol foi uma das entidades convidadas a participar na iniciativa.
As palavras de Miguel Pelica, técnico da Câmara Municipal de Faro, no Centro Náutico da Praia de Faro – ponto de encontro – marcaram a receção dos presentes. De seguida, Carla Lourenço apresentou o projeto Straw Patrol e explicou sinteticamente a problemática do lixo marinho, afirmando que, devido a esse flagelo, «é realmente importante que façamos estas limpezas». A sessão inicial contou com a presença do Presidente do Município de Faro, Rogério Bacalhau, e do Presidente da Junta de Freguesia de Montenegro, Steven Sousa Piedade. Após este primeiro momento, os voluntários repartiram-se pelos vários grupos, que atuaram em locais diferentes – Praia de Faro, Barrinha e Sapais e Ilhotes.
Para Carla Gomes, colaboradora da Cruz Vermelha e responsável pelo grupo da Juventude da organização presente, esta é uma iniciativa que «deve ser feita em todo o lado, não só praias, matas, tudo. Nós todos os anos somos assolados, por exemplo, nas matas com os próprios fogos, as praias com tudo aquilo que nós vemos, sobretudo os animais aquáticos, que acabam por engolir todo o género de lixo», considerando que «não deve ser feita só de vez em quando, mas com bastante frequência». Já Luís Pereira, chefe do Grupo 77 de Escoteiros, de Faro, considera-a uma boa oportunidade incutir boas práticas ambientais nos mais novos: «nada melhor que trazer os jovens, dos 7 aos 22 anos, a esta atividade para fazer a sua educação, a sua consciencialização que temos que deixar o mundo melhor e que não podemos sujar as praias através da ação». De acordo com o mesmo, esta prática ecológica vai de encontro a um dos objetivos dos escoteiros de «deixar o mundo melhor».
A responsável pelo Straw Patrol realça que «é muito bom que diferentes entidades estejam reunidas para este evento, para a parte de limpar a Ria Formosa, precisamente porque nós no fundo trabalhamos todos para o mesmo objetivo, que é deixar a Ria e os oceanos mais limpos», mencionando também que «convidarem-nos para falar e para dar a conhecer o lixo marinho às pessoas, darem-nos essa responsabilidade é realmente uma prova de que confiam no nosso trabalho».
Redes e linhas de pesca, madeira, almofadas de sofá, garrafas de plástico e de vidro, palhinhas, caricas e até uma moeda de 50 escudos foram alguns dos objetos recolhidos na 12.ª edição da ação ecológica promovida pela autarquia.
Em Portugal, existem várias ações e campanhas de limpeza das zonas costeiras e de sensibilização para o flagelo do lixo marinho. Uma dessas iniciativas é o projeto algarvio Straw Patrol.
Um vídeo que se tornou viral no YouTube no verão de 2015 mostrando um grupo de biólogos que tinham resgatado uma tartaruga com uma palhinha de plástico no nariz foi a gota de água «para o eu não abordar estas questões publicamente», afirma Carla Lourenço, bióloga marinha no Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve. Foi nessa altura que a Straw Patrol, que significa, em português, patrulha da palhinha, começou a ser idealizada. Carla Lourenço estava a tirar um curso online de Literacia dos Oceanos e foi-lhe pedida a elaboração de um projeto no papel. Quando o submeteu, em janeiro do ano seguinte, «acabei por oficializar a Straw Patrol e começámos, então, no Facebook e nas redes sociais com a divulgação do projeto».
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O logótipo do projeto foi inspirado no vídeo da tartaruga que foi resgatada com uma palhinha presa no nariz. Fonte: Facebook Straw Patrol |
A Straw Patrol foca-se nas palhinhas, em particular, por serem um objeto dispensável. Os químicos que os microplásticos contêm podem afetar-nos diretamente ao entrarem na nossa cadeia alimentar. Os três pilares do projeto são «Educar, Reduzir e Proteger». A sensibilização para este problema é feita através de palestras, voluntárias e gratuitas, sobre o lixo marinho e os plásticos, nas escolas e outras abertas à comunidade, quando são convidados. «Queremos muito levar as pessoas a repensar as escolhas delas e a adotarem práticas mais sustentáveis e que ajudem realmente o planeta», revela Cara Lourenço. «A parte da educação é realmente muito importante e é um dos nossos focos principais para depois levarmos à redução e à proteção dos ecossistemas marinhos». As ações de limpeza que a equipa promove mensalmente em zonas costeiras contribuem para a redução e proteção, mobilizando vários voluntários.
Recentemente, Carla Lourenço recebeu a menção especial do prémio Terre de Femmes Portugal, que visa distinguir mulheres que se destaquem na proteção do ambiente. «A atribuição do prémio fez-nos saltar um bocadinho para os jornais, para as notícias e o projeto começou a ser mais divulgado, a ser mais conhecido e acabámos também por ter mais contactos por parte das escolas ou por parte de pessoas que querem que nós demos palestras», referiu Lourenço. O prémio monetário atribuído pela Fundação Yves Rocher é, para a bióloga, uma mais-valia, visto que «com isso, nós podemos chegar a mais escolas, porque nós fazemos isto voluntariamente, não pedimos qualquer tipo de pagamento por palestra nenhuma e obviamente que temos que pagar as deslocações».
Compreender o problema do lixo marinho
Na Carta de Compromisso da Associação Portuguesa do Lixo Marinho, este tipo de poluição é definido como «qualquer material sólido persistente, fabricado ou processado, que é descartado, eliminado ou abandonado no ambiente marinho e costeiro». Estes resíduos podem ser, deliberada ou acidentalmente, deixados numa zona marinha ou costeira ou ser para lá transportados indiretamente «através de cursos de água, tempestades, ventos ou por animais», o que agrava ainda mais o problema.
O lixo marinho abrange vários materiais, mas o mais comum é o plástico, sendo que existem «inúmeras evidências que os resíduos de plástico correspondem a 80 - 90% de todo o lixo encontrado em praias e zonas costeiras e também em rios, estuários e no fundo marinho». Este problema tem vários efeitos nos ecossistemas. Regista-se o aprisionamento de animais nos resíduos e a ingestão de lixo, que pode levar a morte por malnutrição ou asfixia. A ingestão de plásticos é especialmente nefasta, dado que estes absorvem compostos químicos tóxicos que estão presentes no mar. Ao serem introduzidos no organismo dos animais, podem provocar problemas no funcionamento dos seus órgãos. Outro prejuízo é o transporte de exemplares marinhos para locais para onde normalmente não iriam, o que pode afetar os ecossistemas locais. Também a maquinaria necessária para remover este tipo de poluição é prejudicial, dado que pode danificar os habitats costeiros. Por estes motivos, o lixo marinho afeta a sustentabilidade das populações aquáticas, nomeadamente de espécies com interesse comercial.
Os impactos acima referidos podem não demover as pessoas, dado não as afetarem diretamente. Contudo, os efeitos que serão agora abordados envolvem as atividades humanas. Para começar, a diminuição dos stocks de peixe afeta a rentabilidade deste setor. Também a economia do turismo é afetada pelas praias contaminadas por lixo, que já não atraem visitantes. A necessidade de limpeza destas áreas leva as autoridades locais a despenderem anualmente de uma fatia significativa do seu orçamento. Mas os perigos que mais preocupam as populações relacionam-se com a saúde humana. De facto, objetos perigosos presentes no areal podem ferir as pessoas e provocar a transmissão de doenças infeciosas. Para além disso, a contaminação das espécies marinhas com compostos químicos tóxicos pode afetar gravemente o bem-estar dos consumidores.
A Câmara Municipal de Faro organiza, anualmente, uma mega limpeza da Ria Formosa, com ações em vários locais. A 12.ª edição do evento Limpar a Ria Formosa contou com o apoio de diversas entidades e a participação de muitos voluntários, que, apesar das condições meteorológicas pouco convidativas, com o vento a soprar fortemente, escolheram passar a manhã de sábado a ajudar o ambiente. A Straw Patrol foi uma das entidades convidadas a participar na iniciativa.
As palavras de Miguel Pelica, técnico da Câmara Municipal de Faro, no Centro Náutico da Praia de Faro – ponto de encontro – marcaram a receção dos presentes. De seguida, Carla Lourenço apresentou o projeto Straw Patrol e explicou sinteticamente a problemática do lixo marinho, afirmando que, devido a esse flagelo, «é realmente importante que façamos estas limpezas». A sessão inicial contou com a presença do Presidente do Município de Faro, Rogério Bacalhau, e do Presidente da Junta de Freguesia de Montenegro, Steven Sousa Piedade. Após este primeiro momento, os voluntários repartiram-se pelos vários grupos, que atuaram em locais diferentes – Praia de Faro, Barrinha e Sapais e Ilhotes.
Para Carla Gomes, colaboradora da Cruz Vermelha e responsável pelo grupo da Juventude da organização presente, esta é uma iniciativa que «deve ser feita em todo o lado, não só praias, matas, tudo. Nós todos os anos somos assolados, por exemplo, nas matas com os próprios fogos, as praias com tudo aquilo que nós vemos, sobretudo os animais aquáticos, que acabam por engolir todo o género de lixo», considerando que «não deve ser feita só de vez em quando, mas com bastante frequência». Já Luís Pereira, chefe do Grupo 77 de Escoteiros, de Faro, considera-a uma boa oportunidade incutir boas práticas ambientais nos mais novos: «nada melhor que trazer os jovens, dos 7 aos 22 anos, a esta atividade para fazer a sua educação, a sua consciencialização que temos que deixar o mundo melhor e que não podemos sujar as praias através da ação». De acordo com o mesmo, esta prática ecológica vai de encontro a um dos objetivos dos escoteiros de «deixar o mundo melhor».
A responsável pelo Straw Patrol realça que «é muito bom que diferentes entidades estejam reunidas para este evento, para a parte de limpar a Ria Formosa, precisamente porque nós no fundo trabalhamos todos para o mesmo objetivo, que é deixar a Ria e os oceanos mais limpos», mencionando também que «convidarem-nos para falar e para dar a conhecer o lixo marinho às pessoas, darem-nos essa responsabilidade é realmente uma prova de que confiam no nosso trabalho».
Redes e linhas de pesca, madeira, almofadas de sofá, garrafas de plástico e de vidro, palhinhas, caricas e até uma moeda de 50 escudos foram alguns dos objetos recolhidos na 12.ª edição da ação ecológica promovida pela autarquia.
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