Adriana Afonso, finalista de Ciências da Comunicação: "tudo o que precisamos de fazer para sermos melhores é dedicarmo-nos"
Joana Almeida
O jornalismo foi considerado o pior emprego de 2013 pelo sítio careercast.com, citado na revista Visão. Na elaboração da listagem foram ponderados vários fatores, como o salário e o stress sentido pelos profissionais. Os ordenados médios passam pelos 1000€ e chegam aos 2000€, conforme o cargo e a distinção do jornalista, mas os estagiários não são remunerados e precisam de um ano em estágio para obterem a carteira profissional. Aqueles que não conseguem estágio ficam anos no desemprego e os que conseguem nem sempre desenvolvem carreira depois dessa etapa, devido ao enorme número de formados na área. Segundo o Jornal de Negócios, as taxas de desemprego na área das Ciências da Comunicação e Jornalismo, comparadas entre universidades, variam e chegam a atingir valores de 29%. Finalista do curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Algarve, Adriana Afonso partilhou com o Olhares Académicos os seus sonhos e conquistas, numa altura em que se prepara para abraçar uma profissão que tem tão pouco de segura, mas tanto de gratificante.
Olá Adriana, és finalista do curso de Ciências da Comunicação e como tal estás a terminar um grande ciclo da tua vida, como foi chegar até aqui?

Olá Adriana, és finalista do curso de Ciências da Comunicação e como tal estás a terminar um grande ciclo da tua vida, como foi chegar até aqui?
Chegar até aqui teve tanto de trabalhoso como de divertido. No fim disto, percebemos que é gratificante. Costuma-se até dizer que o que custa é sair e não entrar. Foram três anos de esforço. Embora encontre algumas lacunas na minha consolidação de conhecimentos, muitas delas fruto do meu desinteresse, sei que a minha vida profissional ainda agora começou. Gostava de ter aproveitado melhor o tempo e as oportunidades que tive enquanto discente, mas acho que a perda das mesmas se deve um pouco à imaturidade que temos quando chegamos ao ensino superior. Ainda estamos verdes: é um misto de sensações, num bolso as expetativas e a vontade de aprender, no outro a dificuldade em gerir todos os novos estímulos (amizades,festas, etc.). No meio de tudo isso, acabamos sempre por não fazer algo que gostaríamos de ter feito. E é isso que hoje me custa: as chances que tive e não aproveitei. Mas faz parte, não podemos ser tudo ao mesmo tempo. No fim, a palavra que mais me ocorre é nostalgia. Trago muitas boas memórias e conhecimentos que serão úteis na prática da profissão que quero seguir. E espero que vocês consigam ser e fazer melhor do todos nós que estamos aqui na linha da frente, prestes a dar o corpinho às balas.
Foi difícil a busca de estágio?
A procura de estágio não foi difícil porque eu já sabia à partida o que queria fazer. Difícil foi receber um feedback da entidade que queria. Mas como há sempre aquele um no milhão, consegui. Às vezes é uma questão de sorte, outras de persistência. Se soubermos o que queremos, torna-se tudo mais fácil. Se não, é tentar até conseguir com que os nossos interesses vão ao encontro de alguma atividade que nos veríamos a fazer. Tudo o que basta é querer.
Procuraste estágio consoante a saída que mais te interessava depois do curso, conseguiste? Onde?
Sim, felizmente consegui. Consegui um estágio no jornal Público, a exercer imprensa escrita. Sempre foi o meu jornal de eleição. Antes de chegar ao terceiro ano, divagava muito a pensar sobre o Público. Parecia-me uma coisa muito distante e quase impossível. Ouvia os outros dizerem que cada vez que enviavam para lá email nunca obtinham resposta e, de certo modo, olhavam para mim a pensar que também não ia ter sorte, no entanto saía-lhes um "mas tenta, pode ser que consigas". O segredo é a persistência. Mandei um, dois, três emails, nada. Esperei. Mas sou impaciente. Então o que fiz foi tentar arranjar o número do secretariado do jornal. A partir daí, passei de número para número, uma semana de espera, duas, liguei de novo, e lá consegui chegar aos recursos humanos. Tinham vaga, escolhi a secção e fui. Antes disso já tinha sido aceite no Diário de Notícias, mas preferi recusar e esperar pelo Público. Corri o risco, é verdade. Podia não ter estágio a esta hora, mas devo ter uma estrela qualquer... Como aquela que não me deixa ganhar o euro milhões por qualquer motivo.
Neste ramo o maior medo é o desemprego, como é que vais fazer para conciliar os teus sonhos com aquilo que te oferecerem no mercado de trabalho?
Essa é uma boa pergunta. Acho que a certa altura da minha vida vou ter de abdicar de um para conseguir manter o outro. Não se conseguem alimentar dois leões ao mesmo tempo. Tal como as histórias, a vida tem sempre um clímax. Quando estiver no meu, espero ser melhor do que sou hoje. E espero que haja alguém que reconheça as qualidades que possuo e que me recompense por aquilo que valho. Caso contrário, encontrarei uma maneira de me fazer ouvir. Na teoria soa tudo muito bem, mas depois... espero nunca deixar os meus sonhos de lado porque os sonhos são o motor da vida. Mas também sou consciente ao ponto de saber que ninguém vive de sonhos. Por isso, não sei. É viver para saber. Desde que nunca duvidemos do valor que temos, vai ficar tudo bem.
Fala-me do estágio, o que é que mais te motiva a continuar?
O que me motiva a continuar é a vontade de ser melhor e, principalmente, mostrar a quem duvida que pode contar comigo como uma certeza. Uma das coisas que a universidade não nos dá é a experiência e estar em contacto com o mercado de trabalho muda-nos. Se na universidade queremos ter as melhores notas, aqui queremos ser todos os dias os melhores para conseguir marcar a diferença. E tudo o que precisamos de fazer para sermos melhores é dedicarmo-nos e pensar sempre para lá da caixa, o que é muito difícil! Não há nada que já não tenha sido feito por isso é que muitas vezes vamos abaixo. Mas felizmente o sol nasce todos os dias. Enquanto isso for uma constante, temos tempo. Desistir não é para os comunicólogos!
Escreveste um texto para a plataforma P3 do Público que invadiu as redes sociais dos que querem ingressar no mesmo ramo. O que te motivou a fazê-lo?Sinceramente, era um esboço que eu tinha guardado há algum tempo. Tenho um grupo de amigos mais velho do que eu e mesmo que não vivesse os problemas com que eles se deparavam ao mesmo tempo que eles, desemprego, mestrados e teses, sempre estive em contacto com essas coisas (e até já sofria por antecipação). Foi um bocado daí que surgiu. Na verdade, só decidi expô-lo agora para mostrar alguma proatividade no estágio e claro porque estou a viver essa fase agora. Eu escrevi-o, mas qualquer um poderia tê-lo feito. É um tema já bastante falado que acaba por passar despercebido. É a realidade portuguesa e internacional sobre isso já ninguém fala, já só aceitamos.
É difícil a separação da vida universitária?
Sim, claro. A boa vida agora acabou-se. Agora é mandar currículos, procurar estágios profissionais, procurar bons mestrados. Daqui para a frente só piora, pelo menos enquanto não encontrarmos aquilo que realmente queremos e de que gostamos. Havemos de passar pelas mãos de boa e de má gente, por trabalhos mais chatos, por situações em que temos de arriscar ou de estagnar.
Que dificuldades e obstáculos encontraste nesta íngreme caminhada?
Obstáculos... Acho que nenhum que seja suficientemente grande para ser sublinhado. Há sempre a preguiça, a desmotivação que nos assola às vezes, as ressacas mascaradas de gripes, o dinheiro das propinas que queríamos gastar em Erasmus... Mas nada que seja suficientemente forte que nos faça desistir do curso. Gostar do curso já é meio caminho andado para o fazer. Tem cadeiras bastante interessantes, alguns professores que se interessam e auxiliam, bem como colegas, amigos que fazem dos trabalhos difíceis algo suportável. Por isso, acho que não me posso queixar.
Foi difícil a busca de estágio?
A procura de estágio não foi difícil porque eu já sabia à partida o que queria fazer. Difícil foi receber um feedback da entidade que queria. Mas como há sempre aquele um no milhão, consegui. Às vezes é uma questão de sorte, outras de persistência. Se soubermos o que queremos, torna-se tudo mais fácil. Se não, é tentar até conseguir com que os nossos interesses vão ao encontro de alguma atividade que nos veríamos a fazer. Tudo o que basta é querer.
Procuraste estágio consoante a saída que mais te interessava depois do curso, conseguiste? Onde?
Sim, felizmente consegui. Consegui um estágio no jornal Público, a exercer imprensa escrita. Sempre foi o meu jornal de eleição. Antes de chegar ao terceiro ano, divagava muito a pensar sobre o Público. Parecia-me uma coisa muito distante e quase impossível. Ouvia os outros dizerem que cada vez que enviavam para lá email nunca obtinham resposta e, de certo modo, olhavam para mim a pensar que também não ia ter sorte, no entanto saía-lhes um "mas tenta, pode ser que consigas". O segredo é a persistência. Mandei um, dois, três emails, nada. Esperei. Mas sou impaciente. Então o que fiz foi tentar arranjar o número do secretariado do jornal. A partir daí, passei de número para número, uma semana de espera, duas, liguei de novo, e lá consegui chegar aos recursos humanos. Tinham vaga, escolhi a secção e fui. Antes disso já tinha sido aceite no Diário de Notícias, mas preferi recusar e esperar pelo Público. Corri o risco, é verdade. Podia não ter estágio a esta hora, mas devo ter uma estrela qualquer... Como aquela que não me deixa ganhar o euro milhões por qualquer motivo.
Neste ramo o maior medo é o desemprego, como é que vais fazer para conciliar os teus sonhos com aquilo que te oferecerem no mercado de trabalho?
Essa é uma boa pergunta. Acho que a certa altura da minha vida vou ter de abdicar de um para conseguir manter o outro. Não se conseguem alimentar dois leões ao mesmo tempo. Tal como as histórias, a vida tem sempre um clímax. Quando estiver no meu, espero ser melhor do que sou hoje. E espero que haja alguém que reconheça as qualidades que possuo e que me recompense por aquilo que valho. Caso contrário, encontrarei uma maneira de me fazer ouvir. Na teoria soa tudo muito bem, mas depois... espero nunca deixar os meus sonhos de lado porque os sonhos são o motor da vida. Mas também sou consciente ao ponto de saber que ninguém vive de sonhos. Por isso, não sei. É viver para saber. Desde que nunca duvidemos do valor que temos, vai ficar tudo bem.
Fala-me do estágio, o que é que mais te motiva a continuar?
O que me motiva a continuar é a vontade de ser melhor e, principalmente, mostrar a quem duvida que pode contar comigo como uma certeza. Uma das coisas que a universidade não nos dá é a experiência e estar em contacto com o mercado de trabalho muda-nos. Se na universidade queremos ter as melhores notas, aqui queremos ser todos os dias os melhores para conseguir marcar a diferença. E tudo o que precisamos de fazer para sermos melhores é dedicarmo-nos e pensar sempre para lá da caixa, o que é muito difícil! Não há nada que já não tenha sido feito por isso é que muitas vezes vamos abaixo. Mas felizmente o sol nasce todos os dias. Enquanto isso for uma constante, temos tempo. Desistir não é para os comunicólogos!
Escreveste um texto para a plataforma P3 do Público que invadiu as redes sociais dos que querem ingressar no mesmo ramo. O que te motivou a fazê-lo?Sinceramente, era um esboço que eu tinha guardado há algum tempo. Tenho um grupo de amigos mais velho do que eu e mesmo que não vivesse os problemas com que eles se deparavam ao mesmo tempo que eles, desemprego, mestrados e teses, sempre estive em contacto com essas coisas (e até já sofria por antecipação). Foi um bocado daí que surgiu. Na verdade, só decidi expô-lo agora para mostrar alguma proatividade no estágio e claro porque estou a viver essa fase agora. Eu escrevi-o, mas qualquer um poderia tê-lo feito. É um tema já bastante falado que acaba por passar despercebido. É a realidade portuguesa e internacional sobre isso já ninguém fala, já só aceitamos.
É difícil a separação da vida universitária?
Sim, claro. A boa vida agora acabou-se. Agora é mandar currículos, procurar estágios profissionais, procurar bons mestrados. Daqui para a frente só piora, pelo menos enquanto não encontrarmos aquilo que realmente queremos e de que gostamos. Havemos de passar pelas mãos de boa e de má gente, por trabalhos mais chatos, por situações em que temos de arriscar ou de estagnar.
Que dificuldades e obstáculos encontraste nesta íngreme caminhada?
Obstáculos... Acho que nenhum que seja suficientemente grande para ser sublinhado. Há sempre a preguiça, a desmotivação que nos assola às vezes, as ressacas mascaradas de gripes, o dinheiro das propinas que queríamos gastar em Erasmus... Mas nada que seja suficientemente forte que nos faça desistir do curso. Gostar do curso já é meio caminho andado para o fazer. Tem cadeiras bastante interessantes, alguns professores que se interessam e auxiliam, bem como colegas, amigos que fazem dos trabalhos difíceis algo suportável. Por isso, acho que não me posso queixar.
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