Kristoman. Quando a música começa a «bater certo»


Carolina Custódio e Cristiana Brito

Kristoman é membro dos Tribruto, uma banda de hip-hop com sucesso a nível nacional. A propósito de um espectáculo de solidariedade em São Brás de Alportel, onde actuou em nome individual, o Olhares Académicos foi ao encontro do rapper louletano.  

Tratam-te por Kristoman, mas qual é o teu nome verdadeiro?
O meu nome é André Guerreiro, tenho 28 anos e sou de Loulé. O meu nome surgiu talvez porque tenha sido numa época natalícia e eu não tinha nome, já não me lembro bem, mas devia estar a acontecer alguma coisa a ver com Cristo e eu achei piada (...), por ser uma pessoa que tinha seguidores, ser uma figura mítica e, pronto, quis adaptar o Cristo com K. E depois fui desenvolvendo um pouco e achei que Kristo era muito banal, muito religioso então mudei para Kristoman.

Porquê Kristoman, tem alguma coisa a ver com religião?
Não, não tem. Quis adicionar o man ao Kristo porque são dois Mc’s que eu segui bastante ao longo do meu percurso que eram o Method man e o Redman, americanos. Como ambos têm man no fim é uma espécie de homenagem a eles, que foram pessoas que me projectaram para o mundo do hip-hop.

Como é que entraste na área do hip-hop?
Eu ouvia rock, ouvia Slipknot, Limp Bizkit, Papa Roach, esse metal pesadíssimo, mas depois o pessoal girou-me cassetes, na altura era o walkman, passaram-me cassetes dos Dealema, do Mundo e dos Peão com uma música que é “A lei das ruas” de que eu me lembro perfeitamente e essa musica é que me fez despertar: “Épah, eles aqui no hip-hop falam o que querem e estão à vontade, isto é um ritmo ali muito métrico” e decidi experimentar. Comecei a fazer uns freestyle’s de brincadeira a gozar com o pessoal, começou a bater certo e foi aí que entrei. Depois comecei a gravar em rádios, antigamente era cassetes, a gente punha o rec juntamente com o play, os dois botões e começava a gravar aí, com os beat’s a sair de uma coluna porque não dava para gravar direto, tínhamos que captar o micro daquele rádio e os instrumentais saiam do computador e foi assim que eu comecei a entrar.

Desde que idade é que cantas hip-hop?
Eu digo sempre desde os 16, mas em 2003 foi quando eu comecei mais ou menos, isso dá 13 anos. Em 2002 foi quando comecei a ouvir e em 2003 comecei a fazer umas rimas.

Sabemos que tens outro projecto em conjunto, os Tribruto. As pessoas conhecem-te como o Kristoman ou como um membro dos Tribruto?
A nível do Algarve, Kristoman. Sabem que o Kristoman é o gajo dos Tribruto e que os Tribruto têm o Kristoman. Por fora também, dentro do hip-hop. Fora do hip-hop provavelmente muitos nem conhecem o Kristoman (...), até porque Tribruto tem dois álbuns e Kristoman tem um de compilações, nem sequer tenho um álbum a solo. Por isso, possivelmente conhecem mais os Tribruto.

Neste momento qual é a tua actividade profissional?
Para ter mais tempo para fazer o meu álbum a solo despedi-me. Depois surgiu-me outro trabalho no golfe, onde já trabalhava, então vou voltar. Mas agora tenho mais tempo, é um horário fixe para fazer música.

Como é conciliar a música com a vida profissional e pessoal?
É complicado. Como disse, eu despedi-me para fazer o meu álbum. Porque para ir para estúdio não podes estar a pensar que vais trabalhar no dia a seguir. Tens de estar ali. Eu cheguei a estar 15 horas em estúdio, ia de manhã e vinha às tantas da noite. Para criares música é muito difícil e os músicos de hoje em dia que têm sucesso, como o Regula, o Jimmy P, dentro da minha área tiveram de deixar de trabalhar para ter o sucesso que têm hoje. É complicado, eu não penso deixar de trabalhar porque tenho os fins de semana de folga, mas claro que se surgirem oportunidades de concertos e isso tenho de deixar de trabalhar , porque é muito difícil, até porque também sou pai e não é só trabalho. É também a vida pessoal, mas dá para conciliar tudo.

Com os Tribruto também?
Com os Tribruto é que dá mais trabalho, porque requer ensaios, requer videoclipes , fotografia, concertos, etc., e então rouba mesmo muito tempo, também é complicado.

Em geral, qual é o público alvo nos espetáculos do Kristoman?
O meu público alvo é malta mais jovem, agora! Porque eu quero atingir um público mais adulto, com o meu álbum a solo que é para sair do fim deste ano com umas rimas mais pessoais, mas neste momento é um público dos 16 aos 21,22 anos, mas quero atingir os 30 e tais com o meu próximo álbum.

Vês pessoas mais velhas a assistirem aos teus espetáculos?
O concerto de hoje foi um exemplo disso. Está bem que foi um concerto a que as pessoas não vieram pelo Kristoman, vieram pela causa e acabaram por “levar com ele”, mas sim. O pessoal mais velho não consegue perceber a rima rápida, eu rimo bastante rápido, mas é isso que eu quero mudar no meu álbum, quero rimar mais lento para os adultos perceberem mais.

Falas muito nas tuas músicas da tua vida privada?
Agora vou começar, antes era mais no gozo… na realidade não era bem gozo, era egotrip, punchline e aí há métrica e há trabalho. Mas agora, sim, é que vou começar a falar mais da minha vida pessoal, para as pessoas perceberem.

Costumas ouvir críticas relativamente ao teu trabalho?

Claro. Mais construtivas do que destrutivas, até porque quem destrói não dá a cara, gostam de falar por trás. Mas claro temos sempre críticas, até de quem faz hip-hop há mais anos, estão-nos sempre a elogiar, a minha maneira de trabalhar, a minha presença em palco, que é muito energética em palco e portanto recebemos bastantes elogios. Agora… focar só nos elogios positivos, não podes estar a pensar que falam mal de ti se não.. não sais de casa.

Certamente tens um ídolo, podemos saber quem é?
Eu tenho vários ídolos, mas em Portugal o Sam the Kid, o Regula e o Mundo foram as pessoas que mais ouvi e aprendi bastante com eles. Lá fora, aí está, o Methodman e o Redman, Busta Rhymes foram pessoas que ouvi bastante e com quem aprendi, de os ouvir fui aprendendo.

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