Muito mais do que um jogo de café

João Lago, ex-jogador do Viana Taurino Clube, conta-nos em primeira mão a sua curta carreira bilharista, os problemas atuais e os objetivos futuros numa modalidade que, aos olhos dos portugueses, parece ainda não ter um grande sucesso.
Duarte Lago| Entrevista

É, de facto, uma modalidade ainda com pouca visibilidade a nível nacional. O que lhe despertou interesse pela sua prática?
Tudo começou em 2005, no dia em que completei 13 anos. O meu pai levou-me a jogar pela primeira vez numa mesa a sério. Havia um torneio no Shopping (Viana do Castelo) mas os jogos eram só à noite, durante a tarde o público em geral podia treinar livremente. Gostei e tornou-se um vício.

Pensou logo que poderia vir a ser, também, um jogador profissional de bilhar?
Um dos jogadores que participou naquele torneio, aliás, o que viria mesmo a ser o vencedor, era vianense e o então campeão nacional da modalidade, o Manuel Gama. O meu pai conhecia-o e apresentou-mo, desde logo senti que poderia talvez não ser tão bom como ele mas pelo menos bater-me com os melhores.

Daí até à chamada a uma equipa, quais foram os principais passos, contou com grandes apoios ou foi uma batalha solitária?
Não, tive sempre algum apoio do meu pai. Inicialmente, treinava apenas com ele e de vez em quando às escondidas em algum café. Ainda não tinha idade permitida por lei para jogar em cafés mas por vezes mentia e dizia que já tinha 16 anos. No entanto, a escola era e ainda é uma prioridade. Entretanto, o clube da cidade era pela terceira vez consecutiva campeão nacional (anos 2007, 08 e 09) e foi depois disso que comecei a frequentá-lo. O meu falecido avô paterno, que nunca conheci, foi lá diretor, na altura o bilhar ainda não era o forte daquela casa, mas por esse motivo tinha mais um ponto de interesse e motivação em frequentar aquele local. Treinei durante cerca de um, dois anos, ganhei uma amizade com o Gama e o meu pai também fez alguma pressão sobre ele e alguns responsáveis pelo clube para apostarem na formação de jovens. Foi então que, em 2011, decidiram criar uma equipa B, mas que pelas regras da Federação Portuguesa de Bilhar permitiam que essa equipa pudesse também frequentar a primeira divisão nacional, e o sonho tornou-se real.

Era o sentimento de uma batalha ganha então. Como progrediu depois dessa “contratação”? Como funcionava a equipa?
Éramos 6 jogadores. A equipa principal também contava com o mesmo número, embora alguns fossem espanhóis e só dois ou três treinavam regularmente naquelas instalações. Em relação à minha, foram chamados alguns dos melhores a nível regional, jogadores que apesar de jogarem em cafés, já tinham participado em alguns torneios amadores a nível individual e vencido. Eu era como que a sexta opção, treinei com eles várias vezes e por vezes lá lhes ganhava. Aos poucos fui ganhando um lugar na equipa principal.

Mas para os pouco entendidos na matéria, em que consiste, a este nível, jogar bilhar por equipas?
Bem, o nosso grupo era constituído por 5 equipas e jogávamos na zona Viana-Braga. As três primeiras equipas apuravam-se para jogarem a fase final contra as restantes equipas a nível nacional, que geralmente se disputa num fim-de-semana em Julho e que naquele ano seria em Oeiras. Nos jogos propriamente ditos eram titulares três jogadores. Cada um jogava numa mesa diferente contra alguém da equipa adversária. Um jogava Bola 8, que é o jogo mais comum em Portugal, no qual um tenta embolsar as denominadas “bolas grandes”, o outro as “pequenas” e quem marcar a preta vence. Outro jogava Bola 9, no qual se embolsavam as bolas por ordem numérica e quem marcasse a 9 vencia e por fim Bola 10, que era basicamente o mesmo mas até à bola nº 10. Algumas regras variavam mas de um modo geral é assim que se jogam. A equipa que tivesse pelo menos 2 dos seus jogadores vitoriosos vencia, sendo então que os resultados podiam ser de 2-1 ou 3-0.

Quais eram as principais equipas a nível nacional e em que patamar se encontrava a sua? Tinha dito que o Viana Taurino Clube havia sido tri campeão nacional.
Sim, a equipa A do Taurino era, e ainda é, uma das melhores a nível nacional. No entanto, depois dessa senda vitoriosa não voltou a ganhar títulos. Perdemos o Gama para o Sporting de Braga em 2011, clube que para além dele contratou também o melhor jogador espanhol da atualidade e também atual campeão europeu de Bola 8, David Alcaide. Ficaram com uma super equipa e foram campeões logo no primeiro ano. Também o Benfica é uma equipa de topo e a que mais rivaliza com o Braga, foram mesmo campeões na última época 2012-13. São as duas melhores no panorama nacional e entre elas tudo pode acontecer. A nossa equipa não teve a melhor prestação, tivemos alguns problemas e no fim do primeiro ano quebramos as ligações com o clube.

Que tipo de problemas existiram? Houve falta de apoios ou problemas a nível interno?
Um pouco das duas. Havia quem preferisse fazer outras coisas do que vir treinar, e além disso os próprios jogadores da equipa tinham de pagar para treinar. Em Portugal, excetuando Braga e Benfica, mais nenhuma equipa tem possibilidades de pagar salários aos jogadores, mas pelo menos criam-lhes condições para treinarem gratuitamente e darem o seu melhor pelo clube. Ali não, os da equipa A não pagavam mas os da B tinham de pagar. Ninguém concordava e essa foi uma das principais razões para o insucesso daquele projeto.

Agora que já nos contou um pouco da sua para já curta carreira bilharista, e visto estar sem clube, quais são os principais objetivos, quer imediatos quer a nível futuro, dentro e fora da modalidade?
Atualmente ainda me encontro a estudar na Universidade e a minha prioridade é mesmo terminar o curso. Mas de vez em quando ainda jogo com amigos, não perdi os contactos das muitas pessoas que conheci no mundo do bilhar e espero, quando me encontrar numa situação mais estável do ponto de vista financeiro, visto que a crise também não ajuda, voltar a jogar contra os melhores, nem que seja apenas a nível individual, porque o bilhar é das minhas grandes paixões.

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