Eleições Europeias: o que podemos fazer pela Europa?

Numa altura em que se comemora o 30.º aniversário de Integração Europeia e em que se aproximam as eleições para o parlamento europeu, decorreu na UAlg uma sessão dedicada aos desafios da Europa
Joana Teixeira e João Carmo| Reportagem


A iniciativa, fruto da parceria entre a Europe Direct, o pólo do Centro de Documentação Europeia (CDE) da UAlg e a Cooperativa de Educação, Cooperação e Desenvolvimento (ECOS), incluiu variadas atividades, como a apresentação de cinco pequenos vídeos dos deputados do PS Correia Campos e Edite Estrela que visam salientar as preocupações e esperanças de uma Europa do século XXI, nomeadamente o desemprego e o poder da escolha. Mas o ponto fulcral nesta sessão foi o momento de explicações e debate, com um painel composto pelo Prof. Doutor António Covas, do CDE, o Dr. António Ramos, da CCDR Algarve, Nuno Simões, representante da Associação Académica, o deputado Mendes Bota, através de ligação Skype, e Bruno António, representante da ECOS  moderador.
Cortesia da página de Facebook da Europe Direct Algarve



Um passado comum, uma convivência ainda a construir

Não seria possível construir a União Europeia sem cidadãos e, como tal, existem escolhas que dependem de todos nós. O Prof. Doutor António Covas relembrou, em primeiro lugar, a União Europeia nos últimos 30 anos, referindo que em 1984 Portugal ainda não fazia parte da C.E.E (Comunidade Económica Europeia) e mesmo assim contávamos com o apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI), cuja presença é recorrente no nosso país. Para o professor, “o período áureo deu-se entre 1986 e 1996, graças ao influxo dos fundos europeus de Bruxelas”. Depois, entre 1995 e 1996, a proximidade da moeda única originou o desacelerar da economia Portuguesa, tendência que se manteve até 2000. Após a adesão ao euro, relatou António Covas que “a economia portuguesa esteve em contraciclo em relação à economia europeia”, explicando que adotámos um modelo despesa-crédito em vez de um modelo poupança-investimento.  Datas como 1989, em que se deu a queda do muro de Berlim, 1990, em que ocorreu a reunificação das duas Alemanhas e 1991, marcada pelo fim da União Soviética, foram também mencionadas pelo especialista da UAlg em assuntos europeus, dada a sua ligação com a actual União Europeia. Acerca do Tratado de Maastricht, que se baseou em três grandes vectores, o Mercado Único, a Moeda Única e a Coesão Económica e Social, António Covas observou que “actualmente era importante um tratado de Maastricht 2” e que “uma das grandes preocupações que o nosso País enfrenta é a insolvência das empresas portuguesas” devido aos “graves problemas de capitalização no sistema privado”. O professor considerou ainda que a atual União Europeia está marcada por um federalismo furtivo, que não consulta os cidadãos nas suas decisões, e lamentou que as consultas nacionais e as eleições não comuniquem entre si, o que considera ser uma das causas para que não se construa a chamada “cidadania europeia”.

Já o representante da Associação Académica Nuno Simões salientou, na sua intervenção, as oportunidades criadas no seio da União Europeia, onde existem programas como o Euro-Escola e o Erasmus + (que nos permite o reconhecimento no nosso País de um curso tirado no estrangeiro) e também parcerias estratégicas. No seu ponto de vista, é importante termos “uma perspectiva do nosso futuro, e sermos empenhados no presente”.

Para o deputado do PSD Mendes Bota são inúmeras as vantagens da adesão a este “grande espaço e tempo de paz”, como a diminuição da mortalidade, a melhoria da taxa de escolarização e o aumento da esperança média de vida. Em termos específicos da região, o Algarve é uma zona “em transição”, cujos recursos são direccionados maioritariamente para a economia e que possui potencialidades diferenciadoras e competitivas. No final da sua intervenção lançou a questão a um público composto essencialmente por estudantes: “O que é que os jovens acham que podem fazer pela Europa?”.

Os fundos europeus, a coesão e a competitividade

António Ramos alegou que as políticas de coesão europeia têm como principal objectivo aproximar os mais desfavorecidos dos menos desfavorecidos em termos de tecnologia, equipamentos e bens de consumo. Em Portugal existem disparidades entre as regiões e o representante da CCDR considerou fundamental atenuá-las. A região algarvia é “uma micro-região” à escala europeia, cujos factores de competitividade se baseiam no sol e no mar. Os primeiros fundos concedidos ao Algarve estiveram em torno da melhoria de infraestruturas, de forma a garantir uma melhor ligação a Portugal Continental e à Europa, do tratamento e abastecimento de água, da melhoria dos recursos humanos, entre outros. Actualmente, o Algarve é “a região do país com maior nível de coesão”, contudo foi perdendo competitividade de forma gradual. Ramos exemplificou com as actividades tradicionais, que foram desaparecendo para dar lugar ao sector dos serviços, com o desemprego que enfrenta, prejudicial ao turismo, e com o problema da concentração populacional no litoral, que consequentemente leva ao envelhecimento da população no interior. Os processos de inovação implicam uma densidade de contactos não existentes na região. Foi precisamente por causa dos indicadores da região algarvia que surgiu o Programa Operacional do Algarve (CRESC), que contém pilares estratégicos de intervenção assentes no mar, na terra e na inovação. António Ramos defendeu que os problemas que Algarve enfrenta são semelhantes ao resto dos pais: o envelhecimento populacional, as assimetrias litoral-interior, tecido industrial degradado e concentração da população numa parcela do território o que leva ao abandono de terras e ao não-aproveitamento do terreno.

Debate, divulgação e consciencialização

Já em espaço de debate, mediado por Bruno António, Nuno Simões partilhou a sua experiência em programas europeus destinados a escolas secundárias, nomeadamente o programa Euro-Escolas, do qual participou, e António Campos incentivou os jovens a ter ideias empreendedoras para o futuro e a arriscar: “têm que se criar empresas dinâmicas. Temos que ter a capacidade de arriscar e as universidades são ambientes seguros para tal”, avançando que existem 15 a 16 milhões de euros para a criação de trabalho. À questão de um participante na sessão de como é que a Europa se torna mais coesa sem cofinanciamento, o Prof. Doutor António Covas respondeu que “o dinheiro tem um custo e temos que pensar no que vamos fazer de modo a rentabilizar porque as auditorias vão aumentar”.

Quase no fim da sessão, que integra um conjunto de sessões realizadas em todo o país, alunos e professores da João de Deus de Faro deram a conhecer o seu projeto vencedor no Green Project Awards, que lhes valeu uma ida ao Parlamento Europeu em Bruxelas no dia 5 de Abril. O projeto tinha como principal objetivo mostrar os problemas da sociedade na Europa e possíveis soluções. Houve ainda tempo para um passatempo em que triunfavam as dez melhores respostas à pergunta feita pelo deputado Mendes Bota. O prémio seria uma camisola com a insígnia da ECO.

À saída, os jovens foram convidados a escrever um comentário ou sugestão sobre o que mudariam ou o que acham da Europa, depositando a sua resposta numa urna, a simbolizar o poder do voto. Porque como referiu o vice-presidente da CCR Algarve: “a Europa enfrenta desafios, mas a solução passa pela nossa decisão nas eleições europeias”.

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